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Como um roqueiro do Guns N'Roses virou um guru dos investimentos

O músico em show do Duff McKagan's Loaded, no Donington Park, na Inglaterra.
As grandes figuras do mundo dos negócios podem se divertir irrestritamente à noite. Eles conseguem ficar esgotados, acordar na manhã seguinte, bater uma rodada completa de golfe, de 18 buracos, e ainda ir à aula à tarde. Mas poucos têm o know-how de Duff McKagan, baixista do Guns N’Roses e do Velvet Revolver, e estudante da Faculdade de Administração de Empresas e Economia Albers da Universidade de Seattle. Em sua autobiografia “É Tão Fácil e Outras Mentiras”, McKagan, 47, explica como pôs fim ao seu hábito de tomar um galão (3,785 litros) de vodca ao dia, trocando-o por dez garrafas de vinho. Descreve também como tomava seu próprio vômito, por seu conteúdo alcoólico. E como usava cocaína apenas para que pudesse beber mais. E como ele tomava tanta cerveja em certo período que o vocalista principal do Guns N’Roses, Axl Rose, o apresentou como “O Rei da Cerveja” e um produtor de “The Simpsons” lhe telefonou para perguntar se podia batizar a cerveja do programa, a Duff, com seu nome –o que foi feito. Conta também como seu pâncreas, em poucas palavras, explodiu, causando queimaduras de terceiro grau a seus outros órgãos internos. Ele também dá ao leitor dicas úteis, como comprar tetraciclina na seção para peixes da pet shop como uma terapia antibiótica barata para doença venérea e como reequilibrar uma carteira de investimentos.

Depois de sua internação no pronto-socorro por pancreatite aguda, aos 30 anos, McKagan deixou de beber, começou a fazer mountain biking, passou a praticar uma arte marcial chamada “ukidokan”, perdeu 23 quilos e aprendeu a ler suas demonstrações de lucros e perdas do Guns N’Roses. Não demorou para que ele entendesse que, apesar dos gastos arrolados no demonstrativo, como iates e jatinhos particulares, ele não estava em má situação financeira. Isso porque a parte dos lucros no livro de registro de contabilidade mostrava que o Guns N’Roses lançou o álbum de estreia de maior sucesso de todos os tempos.

Todos os membros fundadores detinham uma participação igual, e McKagan, ao contrário de muitos músicos, não foi ludibriado por seus contadores. Principalmente porque eles eram honestos, mas talvez também porque, ao contratá-los, ele pegou seus endereços residenciais. “Pelo fato de eu ter vindo de uma família grande, eu não fazia coisas amalucadas”, diz ele, no restaurante de sushi, perto de sua segunda casa em Sherman Oaks, na Califórnia, onde fica quando não está em Seattle. “Quando comprei uma Corvette _que em 1989 era um automóvel de US$ 28 mil_, meu irmão Jon perguntou ‘É isso o que você vai fazer? Torrar todo o seu dinheiro?’.”

McKagan, que mede 1,90 m e porta longos cabelos loiros, muitas joias de prata e muitas tatuagens, cortou o cabelo na época da faculdade. Ele se matriculou logo depois que sua namorada, Susan Holmes McKagan (modelo, estilista de moda praia e coestrela do “reality show” “Married to Rock”, do noticiário de celebridades “E!”, sobre mulheres de astros do rock), engravidou da primeira filha deles. Ela é sua terceira mulher. “Eu nem penso nela como minha terceira mulher”, diz ele. “Ela é minha única mulher sóbria.”

Ao escolher o restaurante pelo molho de soja de baixo teor de sódio, McKagan exibe aquela afabilidade calma típica de tantas pessoas criadas em Seattle. Por isso, embora ele fosse dez anos mais velho que seus colegas de classe na Universidade de Seattle, ele se integrou. Seus primeiros US$ 100 mil em investimentos em ações em 1994 tiveram um resultado bastante bom, em grande medida por ele estar em Seattle: ele comprou Starbucks, Microsoft e Amazon.com. Quando formou o Velvet Revolver, em 2002, com Slash, ex-colega do Guns N’Roses, McKagan ajudou a negociar o contrato de gravação da banda. “Foi realmente um alívio saber do que eu estava falando”, diz ele.

Os cursos da faculdade também o ajudaram a administrar suas duas bandas, a Velvet Revolver e a Duff McKagan’s Loaded, tarefa que exige mais experiência em negócios do que quando ele estava no Guns N’Roses.

“A gente fazia shows, numa época em que os shows perdiam de longe para a venda de álbuns. Atualmente é completamente o contrário”, diz ele. “Ganha-se mais com a arrecadação de bilheteria e camisetas. Agora o quente é ‘Quantas camisetas você vendeu?’, e não discos. Ninguém fala de discos.” Ele sabe que, no centro dos Estados Unidos, as pessoas gostam de camisas grandes, que ficam soltas e são feitas de um material mais encorpado do que o estilo fino e justo típico das costas do país: “É como se você trabalhasse no setor de confecções também”.

As bandas agora buscam patrocinadores de turnês e vendem pacotes VIP vinculados a cartões de crédito. Não faz muito tempo McKagan estava na coxia num show do Queens of the Stone Age, acompanhando a banda cujos álbuns incluem “Lullabies to Paralyze”. “Acabei num canto falando sobre o custo médio de combustível dos ônibus de turnês para o ano”, diz ele. “’Trate de abastecer no Alabama. Não espere até chegar à Louisiana.’”

Mesmo antes de ir para Seattle para estudar _ele estava frequentando uma faculdade de bairro que só oferece os dois primeiros anos do curso superior_ seus amigos de outras bandas mencionaram seus estudos. Mas não para tirar um sarro dele. “Eu estava apenas tomando aulas de matemática. E recebia ligações de colegas que queriam ajuda para investir a grana deles”, diz ele. Por isso, nos últimos quatro anos ele procurou um sócio para fundar uma empresa de administração de grandes fortunas para músicos_ o que acabou fazendo com Andy Bottomley, cofundador da Imprimatur Capital, uma empresa britânica de compras de participações. Eles acabam de abrir a Meridian Rock Capital Management, que leva o nome do romance de Cormac McCarthy que ambos adoram, “Blood Meridian” (“Meridiano de Sangue”, publicado no Brasil pela Alfaguara).

A estratégia pessoal de investimento de McKagan é bastante convencional: ele aplicou 65% de seu dinheiro em ações, o restante em bônus e fundos de investimento imobiliário (além de uma casa grande em Seattle, três imóveis para investir e uma casa de campo rústica). Ele não garimpa ações “quentes”, só papéis desinteressantes revestidos de muitas dívidas: “Sou o anti-Jim Cramer. Não quero sustentar ou deixar de sustentar nenhuma empresa”, diz ele, referindo-se ao ex-diretor de fundo de hedge e apresentador do programa “Mad Money”, da CNBC.

Embora sempre tenha dado orientação em investimentos a amigos músicos, ele nunca ajudou nenhum de seus ex-colegas de banda do Guns N’Roses. Cuidar de seus investimentos seria um tanto pessoal demais. São caras, não custa lembrar, que ele viu pelados e com quem fumou crack. “É uma coisa muito particular, embora todos nós tenhamos ganhado a mesma quantia em dinheiro”, diz ele. “É particular porque, sabe lá? Quanto a sua mina gasta?” McKagan, de fato, ficou constrangido em mostrar a Bottomley sua carteira quando eles começaram a conversar pela primeira vez sobre trabalhar juntos: “É pessoal do ponto de vista intelectual. O quanto esse cara é esperto? O que ele sabe?” Se isso parecia revelador demais, esperemos até Bottomley ler seu livro. (Joel Stein, da Bloomberg Businessweek; tradução de Rachel Warszawski)Fonte Jornal Valor.

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