20111219

Natura está formando um exército de futuros líderes

Marcelo Cardoso, VP de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade da Natura, diz que Cosmos vai incentivar a inovação

A Natura decidiu abraçar o Cosmos para se antecipar ao futuro. Esse poderia ser só mais um slogan anunciando um novo produto da indústria de cosméticos conhecida por ter um discurso sempre alinhado ao meio ambiente e ao uso de recursos naturais. Dessa vez, porém, não se trata disso. Cosmos é o nome de um ambicioso programa de formação de lideranças que tem como objetivo criar um excedente de profissionais capacitados para assumir cargos de comando. Assim, a companhia poderá crescer nos próximos anos sem recorrer ao mercado toda vez que for necessário aumentar seu quadro.

Pelo Cosmos, devem passar os 600 gestores da Natura que atuam no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e França. A preocupação com a formação de novos gestores aumentou na medida em que o número de líderes da companhia também cresceu - até 2004, existiam apenas 150. Nos últimos anos, a Natura expandiu consideravelmente suas operações, tendo registrado em 2010 uma receita líquida de R$ 5,1 bilhões, o que significou um crescimento de 21,1% em relação ao ano anterior. Atualmente, a companhia tem 7 mil funcionários.

Há dois anos, vislumbrando que para manter esse ritmo de crescimento precisaria contar mais com o próprio efetivo para ocupar os cargos de comando, a empresa lançou um programa para acelerar a capacitação de seus profissionais. A experiência foi positiva e trouxe resultados, segundo Marcelo Cardoso, vice-presidente de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade. O percentual de aproveitamento de pessoas internas nos processos de contratação de líderes subiu de 68% em 2009 para 80% hoje.

Tendo isso em vista, a companhia decidiu elaborar um programa mais abrangente, batizado de Cosmos. O primeiro passo então foi mapear os cem cargos mais críticos. A partir daí, a Natura decidiu que ao invés de pensar em ter um potencial sucessor para cada uma dessas posições, seria mais prudente formar um número confortável de excedentes. "Não sabemos o tamanho que teremos nos próximos anos", diz Cardoso. Em um ano, com a ajuda da consultoria BTA, capitaneada pela professora Betania Tanure, foram estabelecidas as diretrizes do treinamento. "Trata-se de um projeto de muita especificidade pelo grande entrelaçamento com o negócio", explica a consultora.

Foram envolvidos em sua concepção desde os fundadores da empresa - Luiz Seabra, Pedro Passos e Guilherme Leal -, até o diretor-presidente Alessandro Carlucci, os conselheiros, os vice-presidentes e os diretores. Segundo Cardoso, o comitê executivo ficou encarregado de amarrar o conteúdo e os fundadores de fazer o resgate histórico numa tentativa de promover um melhor alinhamento cultural. "A intenção é equalizar o repertório dos participantes sobre o que é gerir na Natura", afirma.

Dividido em quatro etapas, o Cosmos começou discretamente. Em abril deste ano, foi lançada a primeira fase chamada de "escola", que vai ter um ano de duração. Para falar sobre o trabalho gerencial, o gestor contemporâneo, a dinâmica das organizações, sustentabilidade e outros temas relacionados direta ou indiretamente ao cotidiano dos líderes, foram convocados para dar aulas nomes internacionais de peso como o polêmico professor canadense Henry Mintzberg da universidade McGill, o consultor Ram Charan, Richard Locke e Otto Scharmer do MIT, e Paul Evans, que atuou nas principais escolas de negócios europeias. Além disso, participa um grupo de consultores e professores brasileiros como Luiz Carlos Cabrera, Humberto Mariotti, José Carlos Teixeira entre outros. "O objetivo é desenvolver competências de acordo com a função que o gestor ocupa", diz Marcelo Madarasz, gerente de desenvolvimento de liderança.

A segunda etapa do Cosmos está prevista para começar em 2012 e é constituída pelos chamados "programas satélites". Ela não é dividida por níveis gerenciais, mas pela afinidade dos gestores com assuntos de interesse da companhia. "Vamos tratar, por exemplo, de inovação e internacionalização", explica Madarasz.

Na terceira fase, chamada de "confraria", a cada 60 dias os gestores vão discutir sobre projetos da companhia com os quais possam contribuir de alguma forma, mesmo não sendo de sua área específica de atuação. "O objetivo é mexer com o eixo da organização, integrando as diversas áreas de negócio", diz Betania Tanure.
Todas as dimensões do Cosmos deverão ser registradas em uma rede social interna chamada de "comunidade de interesses". "Ela será dedicada à difusão da produção intelectual gerada em todos os ambientes do programa", explica Cardoso.

A última fase, chamada de "oficina" será dedicada à experimentação. Nela, os líderes das várias áreas vão poder desenvolver projetos novos juntos. "Será um espaço voltado principalmente para a inovação", explica Betania. Segundo Cardoso, esse será o momento em que a empresa começará, de fato, a colher os frutos desse trabalho de formação. A intenção é motivar as pessoas a pensar em soluções para temas que não estão no seu dia a dia. "Queremos provocar a busca por soluções inusitadas e diferentes das que encontramos hoje", diz.

A companhia não revela quanto está investindo no Cosmos. Mas para completar todos os ciclos, cada profissional levará cerca de três anos. "Como todo projeto de longo prazo, temos que imaginar onde queremos chegar", diz Cardoso. Fonte Jornal Valor.

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