20111221

Ex-diretor-presidente da GM rompe o silêncio

Rick Wagoner passou quase duas décadas no comando da maior montadora de veículos do mundo. Depois de quase três anos de silêncio, o ex-presidente da General Motors Co. reapareceu no último no fim de semana.

Rick Wagoner, ex-diretor-presidente da General Motors, faz um discurso de formatura na universidade Virginia Commonwealth. Wagoner escolheu a cidade natal — Richmond, no estado da Virginia — para a primeira aparição pública desde 2009, quando foi obrigado a deixar o comando da GM pelo governo Obama para que a empresa fosse socorrida. Wagoner falou para uma turma de 1.100 formandos da Virginia Commonwealth University.

Foi um discurso curto, de cerca de 12 minutos. Antes disso, havia negado vários pedidos de entrevista, incluindo um do jornal local no qual apareceu com frequencia desde que foi capitão do time de basquete do colégio. Wagoner mal mencionou a GM, mas falou aos formandos sobre tomar riscos e aceitar a derrota com elegância.

O discurso combinou com um executivo que volta e meia parecia pouco à vontade no centro das atenções, mas que era popular entre aqueles que trabalhavam para ele.

Aos 58 anos, o ex-presidente só mencionou a GM ao tentar transmitir à plateia a importância de aceitar desafios. Disse que nunca quis viver em Nova York ou no exterior, embora sua carreira na GM tenha começado por aí, algo que o beneficiou.

"Estava disposto a ir para qualquer lugar dos Estados Unidos em busca do melhor trabalho — com exceção de Nova York", disse. "Obviamente, recebi uma proposta de trabalho da GM — em Nova York".

"Não tente programar cada passo de sua vida", acrescentou.
Wagoner ganhou destaque aos 39 anos de idade, quando virou o diretor financeiro mais jovem da GM — e herdeiro aparente do então presidente Jack Smith.
Substituiu o mentor em 2000, virando um dos executivos mais famosos do mundo e se convertendo na cara de Detroit. O modo como tocou a GM contribuiu muito para moldar os rumos da indústria automobilística mundial.

Para sustentar a venda de carros na esteira dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, Wagoner lançou a campanha "Keep America Rolling" e fez uso pesado de incentivos.

Duas rivais menores de Detroit, Ford Motor Co. e Chrysler Group LLC, foram obrigadas a seguir o exemplo da GM. De certo modo, a Toyota Motor Corp. e outras montadoras também o fizeram.

Quando Wagoner firmou um pacto entre GM e a italiana Fiat SpA, a decisão provocou uma série de alianças similares mundo afora.

Sua ênfase em caminhões e utilitários esportivos de altas margens, em detrimento de veículos de passeio, definiu sob muitos aspectos a estratégia da indústria automobilística americana. Quando a GM comprou a Hummer, a linha de SUVs de estilo militar, a Ford seguiu o exemplo com a compra da Land Rover.

Embora tenham ajudado a levar a GM a lucros de bilhões de dólares, sobretudo na década de 1990, quando Wagoner comandou as operações da empresa na América do Norte, as estratégias do executivo no final contribuíram para sua queda.

A GM começou a acumular prejuízos em meados da década de 2000, em meio à queda nas vendas e à disparada dos custos com saúde. Em 2008, a venda de caminhões perdia fôlego e a GM não conseguia competir com automóveis das rivais japonesas Toyota e Honda Motor Co.

Wagoner fechou fábricas e enxugou a folha, mas muitos das medidas tomadas para fortalecer a GM vieram tarde demais — e foram insuficientes.
Durante seu mandato, a GM registrou perdas de US$ 85 bilhões. Wagoner fez um acordo histórico com o sindicato em 2005 para transferir custos previdenciários da montadora a um fundo da entidade; três anos depois, a empresa ainda devia bilhões ao fundo. O executivo lutou contra um pedido de concordata, temendo que isso fosse causar um êxodo de consumidores fatal para a GM. E resistiu ao corte de marcas e modelos que não davam lucro, medidas que o governo Obama ordenou durante a concordata — além de mais cortes na folha, fechamento de fábricas e medidas para eliminar bilhões em dívida no processo de recuperação judicial.

No início de 2009, quando a GM pedia socorro ao governo, Wagoner disse à força-tarefa montada pelo governo Obama para resgatar o setor que deixaria o cargo se isso significasse salvar a GM. E assim foi. Em março, Wagoner renunciou.

Embora não fale sobre a montadora em público, Wagoner conversa regularmente com ex-colegas de trabalho na empresa, volta e meia perguntando como vão todos, de acordo com várias pessoas ainda em contato com ele.

No ano passado, pouco depois da posse do atual presidente da GM, Dan Akerson, Wagoner se reuniu com ele para falar sobre a montadora.
"Ele ainda é incrivelmente fiel à GM", disse um ex-executivo que segue em contato com Wagoner.
Wagoner encerrou o discurso aos formandos com uma frase de Madre Teresa: "O que você passou anos construindo, alguém pode destruir da noite para o dia", disse ele. "Construa assim mesmo". Fonte The Wall Street Journal.

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