20111226

Natal e trabalho são uma combinação que não funciona

Este é o Natal menos natalino que já passei no escritório. Não há enfeites chamativos em cima da fotocopiadora. Não há barbantes com cartões de Natal descendo do teto. Na verdade, praticamente não há cartões. Até agora, recebi apenas três.

Um é de uma empresa que nunca ouvi falar e exibe seu logotipo acrescido de chifres de renas. Dentro, há uma assinatura rabiscada de um nome que poderia ser Ian ou Jon. Seja como for, não o conheço. O segundo não tem assinatura alguma; apenas o terceiro é de alguém que, de fato, conheço.

Nenhuma empresa me mandou presente neste ano;. Recebi somente uma mensagem da administração delineando nossa política antissuborno e especificando o que fazer no caso de se receber algo interessante (recusar, devolver, doar para instituições de caridade etc).

Quanto às festas, ninguém parece querer participar mais. Uma pesquisa recente mostrou que 94% dos funcionários britânicos prefeririam dinheiro ou folga do que passar uma noite bebendo com os colegas de trabalho. Talvez seja a recessão: estar preocupado com seu emprego ou ficar pensando se suas economias não estariam mais seguras debaixo do colchão não é algo que deixe as pessoas no clima. Ou talvez seja que todos, enfim, chegamos à única conclusão sensata sobre o Natal no escritório: não funciona. Festividades não se misturam com profissionalismo e o politicamente correto.

Até os pobres cartões por e-mail estão mais ausentes do que nunca. Uma conhecida que dirige uma empresa me contou que desistiu de enviá-los ao descobrir que custariam 2 mil libras (R$ 5,7 mil). É uma quantia considerável quando se pensa que a vontade que um cliente tem para clicar em links com pinta de spam beira temperaturas abaixo de zero.

Algumas poucas empresas persistem com essa prática, mas não fazem de coração. Um leitor me encaminhou um cartão que é candidato para "o pior do ano", do novo executivo-chefe da Agência de Fronteiras do Reino Unido. Ele resume perfeitamente um espírito desbotado de alegria. Só a imagem já seria ruim o suficiente - flocos de neve em um fundo azul com as frases "Boas Festas, do Ministério do Interior" e "O Ministério do Interior inclui: Agência de Antecedentes Criminais, Agência Governamental de Igualdade e o Serviço de Passaportes e Identidades", informações que, embora moderadamente úteis, não são as mais prazerosas.

O e-mail anexo é ainda mais atroz. "Querido colega", começa, de forma infeliz. "O ano que passou foi exigente e desafiador, mas a agência alcançou muitos êxitos na entrega da agenda de imigração do governo". Isso traz simultaneamente três equívocos. As festas de fim de ano são um momento para proclamações celestiais - não para si próprio. Segundo, pelo que li, a agência mais sofreu do que teve êxitos em 2011. Além disso, uma "agenda" é a pauta a ser discutida, não algo para ser entregue.

Apenas uma empresa vem se diferenciando. A Shareholder Representative Services, que ajuda as empresas após acordos de fusão, enviou e-mail com um filme de dois minutos a seus clientes - uma regravação de "The Rocky Horror Picture Show" misturado com Monty Python. Ela mostra animações feitas de recortes do Queen e de Iggy Pop dançando "Let's Do the Time Warp Again", com a letra alterada para "Let's Do a Merger Again" (vamos voltar a fazer fusões).

Em minha casa, a situação não é melhor. A escassa leva de cartões até trouxe um de relativo bom gosto, "Para Lucy e David". O problema é que o remetente esqueceu de escrever seu nome.

Quando mencionei a escassez de cartões a um amigo, ele disse que sua safra 2011 havia sido tão lastimável que decidiu desenterrar alguns do ano passado para colocá-los sobre a lareira. Isso me pareceu uma ideia brilhante. Não há motivo para os cartões durarem apenas um ano. Seria mais eficiente e ecológico se durassem dois, cinco ou dez anos. Os remetentes simplesmente especificariam a data de vencimento, baseados em quando eles acreditam que seus desejos de felicidade aos destinatários se esgotariam.

Agora, me arrependo de não ter guardado as lindas imagens da catedral de Saint Paul sob a neve e as cenas natalinas que as pessoas costumavam me mandar. Embora não goste muito de Natal no trabalho, as estantes de livros sobre minha mesa parecem meio sem graça e imagens do tipo lhes dariam uma boa animada. Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times".

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