20120112

Trabalho voluntário vira ferramenta de negócios de grandes empresas

No ano passado, Laura Benetti passou quatro semanas num região rural da Índia, ajudando mulheres a examinar costuras e definir preços de confecções que seriam vendidas vendidas em mercados locais.

Depois de trabalhar nove horas por dia, ela e mais nove colegas dormiam em uma pousada frequentada por gente da comunidade, com pouco acesso a eletricidade e água quente. Benetti, de 27 anos, coordenadora de alfândega e comércio internacional da Dow Corning Corp., considerou essa temporada um trabalho gratificante.

A Dow Corning faz parte de um número crescente de grandes empresas, como PepsiCo Inc., FedEx Corp., Intel Corp. e Pfizer Inc., que estão enviando pequenas equipes de funcionários para países em desenvolvimento como Índia, Brasil, Gana e Nigéria, para prestar consultoria gratuitamente a organizações sem fins lucrativos e outras entidades. Um dos principais objetivos: descobrir oportunidades de negócios em mercados emergentes promissores.

Apesar da perspectiva de passar longos dias de trabalho em ambientes nada confortáveis, muitos funcionários consideram essa experiência em outros países como um verdadeiro prêmio. Normalmente, há muito mais candidatos do que vagas: a Intel, por exemplo, diz que apenas cerca de 5% dos candidatos conseguem uma vaga no seu Corpo de Serviços de Educação.

Embora seja considerado um trabalho "voluntário", os funcionários em geral continuam recebendo seu salário normal durante essas temporadas, que geralmente duram de duas a quatro semanas. Os programas atraem os funcionários que desejam desenvolver novas habilidades e doar seu tempo e conhecimentos aos que mais necessitam — ou, simplesmente, quebrar a rotina.
"Isso dá mais sentido à carreira", diz Benetti.

Pelo menos 27 das empresas que integram o ranking Fortune 500 das maiores corporações americanas têm programas desse tipo atualmente, em comparação com seis em 2006, segundo pesquisa da CDC Development Solutions, organização sem fins lucrativos de Washington que projeta e administra esses programas.

A um custo que vai de US$ 5.000 até mais de US$ 20.000 por funcionário, os programas requerem um investimento significativo. Para a International Business Machines Corp., que tem o maior desses programas de executivos voluntários, o custo é de cerca de US$ 5 milhões por ano.

A IBM já enviou 1.400 funcionários a diversos países desde 2008 pelo seu programa Corporate Service Corps. Os projetos já geraram planos para reformar o sistema postal do Quênia e desenvolver a indústria do ecoturismo na Tanzânia.

A IBM atribui ao programa a geração de cerca de US$ 5 milhões em novos negócios até o momento, incluindo um contrato, concedido em abril de 2010, para administrar dois programas de serviços públicos no Estado nigeriano de Cross River, diz Stan Litow, vice-presidente de cidadania corporativa.

A fabricante de silicone Dow Corning planeja avaliar 15 ideias relacionadas a novos negócios, geradas pelos 20 funcionários que enviou à Índia desde setembro de 2010, diz Laura Asiala, diretora de cidadania corporativa. Asiala não quis dar detalhes, mas diz que a empresa "identificou oportunidades" em habitação acessível, energia e outros setores, graças às observações dos voluntários.

Os programas geram boas relações públicas, tanto interna como externamente, graças à cobertura dos meios de comunicação e aos blogs que muitos participantes escrevem sobre seu trabalho em campo.

As empresas "ganham reconhecimento local da marca" nos mercados em que desejam entrar, diz Deirdre White, presidente e diretora geral da CDC Development Solutions.

Executivos das empresas também dizem que esses programas populares podem ajudar a recrutar talentos de que a firma necessita e manter seus funcionários mais talentosos.

A missões no exterior podem servir como um campo de treinamento para futuros líderes. Caroline Roan, vice-presidente de responsabilidade corporativa e presidente da Fundação Pfizer, diz que algumas das 270 pessoas que a gigante farmacêutica já enviou a outros países descrevem a experiência "como um mini-M.B.A.".

"Eles desenvolvem novas habilidades, em parte porque às vezes são colocados em situações fora da sua área de experiência, o que tende a tornar as pessoas mais criativas", diz ela. Fonte The Wall Street Journal.

Narciso Machado

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