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Chips. Quanto vale?

A era da internet móvel e da conectividade mudou a face do mercado de microprocessadores e colocou a briga entre gigantes do setor, como Intel e Qualcomm, num novo patamar.

O CEO da Intel, Paul Otellini, um dos mais poderosos executivos de tecnologia do mundo, é testemunha ocular das principais transformações do setor nas últimas décadas. Há 30 anos na companhia, ele assistiu à consolidação, por exemplo, do reinado do PC, uma máquina que levou a computação para dentro da casa de milhões de pessoas. A Intel soube se colocar como soberana no mercado de chips nesse cenário, numa posição favorecida por sua longa parceria com a Microsoft. Atualmente, Otellini está às voltas com uma nova mudança de grande impacto, com desdobramentos importantes na relação dos usuários com os aparelhos tecnológicos e, consequentemente, do negócio no qual a Intel atua, o de chips. Essa transformação diz respeito ao fim da “era PC”, que dá lugar à mobilidade e às múltiplas possibilidades de conexão, com acesso à internet por meio de smartphones e tablets, tevês e videogames.

O desafio para a companhia dirigida por Otellini é provar que também pode brilhar nesse novo mundo digital, no qual é apenas um figurante por enquanto. O primeiro passo para atingir esse objetivo foi dado recentemente, com o lançamento de seu primeiro chip desenvolvido especialmente para os equipamentos móveis. Ser bem-sucedida nessa nova frente é crucial para continuar protagonista da indústria nas próximas décadas. “O que já vimos até agora no setor de tecnologia não é nada comparado ao que vejo no horizonte”, disse Paul Otellini na abertura da sua apresentação na Consumer Electronic Show (CES), maior feira mundial de tecnologia do mundo, realizada em Las Vegas entre os dias 8 e 13 de janeiro. A entrada da Intel no segmento móvel marca o início de uma nova etapa na área de chips, que já vê uma grande movimentação por parte dos concorrentes.
Dentro da maioria dos smart-phones e tablets há chips de fabricantes pouco ou nada conhecidas do usuário comum, como a Qualcomm, que domina cerca de 50% desse filão, além de Nvidia, Marvell e Texas Instruments. E, enquanto a Intel busca os smartphones, as concorrentes estão de olho no mercado de PCs. Todas apostam no Windows 8, o novo sistema operacional da Microsoft para PCs e tablets, que pela primeira vez rodará em chips com a tecnologia ARM, usada por elas em seus semicondutores. A briga entre essas gigantes não se resume apenas a disputar territórios dominados pelas rivais. Trata-se também de buscar diferentes fontes de negócios em terrenos ainda pouco explorados, como o de televisores, carros, câmeras, eletrodomésticos e até ítens como lâmpadas, sapatos, pontos de ônibus, etc.

Todas elas, de um jeito ou de outro, estão ampliando sua área de atuação para esses mercados. Além dos PCs, a Nvidia tem apostado no setor de servidores e carros conectados. Já a Qualcomm concentra esforços no segmento que ela denomina de casa conectada, em que todos os ambientes e dispositivos do lar estão interligados. E a Intel, além dos smart-phones, investe na computação embarcada em toda a gama de máquinas e dispositivos, que podem ser desde simples televisores a aviões. Hoje, existem cerca de cinco bilhões de equipamentos conectados no mundo. Em 2015, serão pelo menos 15 bilhões; em 2020, mais de 50 bilhões. Assim, máquinas e humanos estarão constantemente unidos por meio de redes sem fio.
E para cada um desses aparelhos e objetos haverá pelo menos um processador, o que sinaliza o tamanho da oportunidade que Qualcomm, Intel e tantas outras empresas querem abraçar. “Os dispositivos móveis estão se tornando rapidamente o principal meio para acesso a internet”, disse à DINHEIRO o argentino Rafael Steinhauser, presidente da Qualcomm para a América Latina. Trata-se de um movimento sem volta – e a Intel sabe disso. Líder há décadas na produção de chips para computadores e servidores, a empresa nunca viu sua liderança ser realmente ameaçada. Nas últimas décadas, por exemplo, a AMD, sua rival histórica, poucas vezes ultrapassou os 20% de participação nesses setores, ante os 80% da Intel. Mas o cenário se tornou mais difuso depois da entrada em cena dos supercomputadores portáteis, como smartphones e tablets.

Foi por isso que, ao longo dos últimos anos, a Intel tem investido bilhões de dólares no desenvolvimento de uma nova família de chips chamada Medfield, mais econômica, eficiente e voltada a celulares. “Estamos dando nossos primeiros passos nesse mercado, mas estamos bastante confiantes de que temos um produto de qualidade e competitivo”, disse à DINHEIRO Fernando Martins, presidente da Intel no Brasil. Os primeiros smartphones com os processadores Medfield nos equipamentos de Lenovo e Motorola devem ser comercializados ainda neste ano. Com a investida na área de mobilidade, a empresa de Paul Otellini quer beliscar um bolo que hoje está nas mãos da Qualcomm, companhia presidida por Paul Jacobs.
É uma disputa de peixes graúdos, embora a Intel tenha um porte maior. Enquanto a Qualcomm obteve um faturamento de US$ 15 bilhões em 2011, a companhia de Otellini fechou o ano com receita de US$ 54 bilhões, quase quatro vezes superior à obtida pela concorrente. A primeira empresa conta com 20 mil funcionários e tem valor de mercado de US$ 99 bilhões, ao passo que a companhia de Paul Otellini tem 100 mil empregados e vale US$ 136 bilhões. “Qualcomm e Intel estão em rota de colisão”, afirma Jon Erensen, analista da consultoria Gartner. Ainda é cedo para saber quem vai levar a melhor nesse admirável mundo novo e em constante transformação. Uma coisa, no entanto, é certa: o cenário tornou-se mais complexo, conectado e veloz e os candidatos a rei do mercado de chip precisam se colocar à altura do novo desafio. Fonte Revista Isto é Dinheiro.

Narciso Machado

NCM Business Intelligence

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