20120117

O besteirol no mundo corporativo continua em alta

Há uma lei da economia que diz que todos os mercados são cíclicos, menos um: o do besteirol, que só cresce. Em 2011 tudo o mais estava em recuo, mas havia tantos candidatos ao meu prêmio anual de palavreado vazio que examinar todos eles foi um processo longo e doloroso.

A primeira categoria é uma das minhas preferidas: a taça Som e Fúria, com o qual é agraciado um diretor de empresa que faz um pronunciamento público sem qualquer significado. Alan Mulally, da Ford, mostrou-se forte candidato: "Estaremos concentrados em administrar agressivamente os desafios, as oportunidades de curto prazo e continuamos comprometidos em cumprir nosso plano de meados da década e em atender o crescente grupo dos clientes."

Mas o vencedor é John Chambers, da Cisco, que conseguiu ser ainda mais vazio com menos palavras: "Vamos acelerar nossa liderança por todas as nossas cinco prioridades e competir para ganhar na atividade principal."

O próximo prêmio é um que está muito na moda: o pior eufemismo para demitir pessoas. Este vai para a Nokia, que no ano passado anunciou que 17 mil pessoas foram mandadas embora ou, nos termos usados pela empresa, que suas divisões estavam sendo "administradas de modo a gerar valor".

O terceiro prêmio é mais especializado: é destinado ao uso mais espúrio de porcentagens superiores a 100%. A jogada do ex-técnico australiano de críquete Tim Nielsen fez a bola ultrapassar em muito o limite, quando ele disse que estava "100.000% empenhado" em fazer com que a Austrália conquistasse o título de melhor time mundial. No entanto, decidi conceder o prêmio a Devin Wenig, do Ebay, com base na qualidade, e não na quantidade. Ele disse que estava "1.000% comprometido" com seu novo cargo, mas acrescentou uma explicação: "Nesta altura de minha carreira, uma grande plataforma, uma grande marca e o impacto mundial eram parte do que eu estava procurando como solução para a priorização das oportunidades."

Seu novo cargo, presidente da divisão de mercados mundiais, não é desajeitado o suficiente para chegar à lista dos finalistas do meu próximo prêmio, o pior título de cargo. Eu estava a ponto de atribuí-lo a um funcionário da Ernst & Young que é o diretor mundial de fixação de preços de deslocamento de produtos estreantes. Isso corrobora a lei que diz que o comprimento do título do cargo e sua importância são inversamente proporcionais. Mas encontrei um título ainda mais longo. Dirk Beeuwsaert é vice-presidente executivo encarregado da linha internacional de produtos de energia da GDF Suez.

Agora, um prêmio setorial, concedido à tentativa mais heroica da parte de uma consultoria de complicar as coisas. Fiquei tentada a destiná-lo ao sócio de uma das quatro grandes empresas de contabilidade e auditoria que disse: "O desafio para mim é remontar o quadro geral, enquanto jogo meus braços em torno do máximo da densidade das complexidades possível, decompondo-as a seus elementos mais básicos e rearticulando-as de novo no quadro geral".

Mas concluí que ele precisava de férias, mais do que de um prêmio; portanto, estou dando o laurel a um consultor da McKinsey que disse: "A avaliação teve como base a metodologia internacional e a verificação de campo."

Outra de minhas categorias preferidas é a pior fórmula de despedida para encerrar uma mensagem de e-mail, e este ano tenho uma lista de cinco finalistas: "Toodle pip" (algo como "tchau, tchau"); "all heart" ("de todo o coração"); "Smiles" ("sorrisos"); "To your success" ("Ao seu sucesso") e (depois de uma mensagem ameaçadora), "Thanks and Bless" (equivalente a "Tchau e bênção"). Todas merecem prêmios, mas escolho "Smiles", que é ao mesmo tempo falsa e contém um uso desconcertante do plural. Quantas bocas tem o remetente?

Finalmente, o prêmio de palavreado vazio por parte de uma empresa que tinha tudo para não cair nessa. O vencedor é o Manpower Group, por se descrever da seguinte maneira: "Nossa empresa, de US$ 22 bilhões, cria uma exclusiva geração máxima de valor no menor tempo possível por meio de um conjunto abrangente de soluções inovadoras que contribui para que os clientes ganhem na Era Humana". Isso me faz ter saudade da Era Jurássica, pois não creio que os dinossauros tivessem frases feitas inovadoras.

Devo mencionar um ganhador desqualificado por conflito de interesses. O prêmio Martin Lukes, atribuído em honra ao falecido executivo que cunhou o termo "creovation" (em inglês, mistura de criatividade com inovação), atraiu em 2011 uma lista formada por "humantelligence" (fusão entre "inteligência e humana"), "creatigist" (entre criativo e estrategista) e "worliday", cruzamento entre trabalho e feriado. Perguntei a várias pessoas qual delas era mais merecedora e, por unanimidade, elas apontaram "worliday". Só tem um problema: a pessoa que cunhou o termo - escreveu, na verdade, toda uma coluna sobre ele - fui eu. Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times"

Narciso Machado

NCM Business Intelligence

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