20120114

Bancos se adaptam a uma nova era de lucros magros

O setor de bancos de investimento, notoriamente propenso a ciclos de contratação e demissão durante as altas e baixas da economia, está no meio de um recuo que pode ser mais profundo.

O anúncio ontem de que o Royal Bank of Scotland Group PLC vai eliminar milhares de empregos e sair de algumas linhas de negócio em seu banco de investimento traz à tona a mudança radical em andamento em alguns bancos da Europa que, até recentemente, aspiravam a competir no mesmo nível de tradicionais pesos pesados como o Goldman Sachs Group Inc.

Outros bancos, como o UBS AG, da Suíça, e o italiano UniCredit SpA, também anunciaram nas últimas semanas cortes que vão além dos recuos típicos das más fases do mercado. Mesmo fortes atores do setor, como o Credit Suisse, estão fazendo tomando medidas drásticas que mostram a pressão sobre o setor para se adaptar às novas realidades.

Além do corte de 3.500 empregos, o RBS anunciou também o fechamento de divisões vitais para o negócio de banco de investimento, como o de subscrição de ações e assessoria de fusões e aquisições. Ao contrário de outros bancos que estão podando porções de seus bancos de investimento, o RBS o fez sob pressões políticas diretas, com George Obsorne que ocupa um cargo que corresponde ao de ministro da Fazenda do Reino Unido , dizendo publicamente no mês passado que o banco deveria encolher aquela unidade para reduzir riscos.

O banco britânico, que antes da crise financeira tinha grandes ambições sob a liderança do ex-diretor-presidente Fred Goodwin, agora planeja se concentrar em negócios mais próximos de sua atividade central de financiamentos, como a subscrição de títulos de dívida e operações de câmbio. Tendo ainda 83% do capital nas mãos do governo britânico desde que foi resgatado três anos atrás, o RBS afirmou que está fechando operações devido às difíceis condições de mercado e a um aumento na regulamentação, o que dificultou a obtenção de lucros nos negócios que decidiu abandonar.

Executivos do RBS dizem que fazer negócios em áreas como fusões e aquisições sem ser um líder do setor se tornou impossível. A divisão de banco de investimento do RBS tem ainda que lidar com novas regras britânicas que forçariam os bancos a separar seus negócios de atacado dos de varejo, o qual bancos costumam usar para financiar suas atividades mais arriscadas.

A indústria de banco de investimento tende a inchar-se quando o mercado está favorável — como foi o caso antes de 2008 — e encolher depois de uma crise financeira, ou em períodos de lucros escassos como o atual. É provável que pelo menos parte da retração hoje seja temporária e dure até os problemas financeiros e econômicos da Europa se dissiparem e atividades como fusões e aquisições e subscrição de ações voltarem a se aquecer.

Mas especialistas dizem que partes do atual recuo não devem ser revertidas, pelo menos não tão cedo. Embora os cortes mais drásticos estejam acontecendo na Europa, a região tem um papel global importante na indústria, de modo que as reformas que estão em andamento provavelmente vão afetar os rankings do setor.

"Há sinais de uma mudança permanente aqui", disse Douglas Elliott, um experiente banqueiro de investimento que hoje é membro do centro de estudos Brookings Institution. "É um pouco como o que aconteceu depois da Grande Depressão. Vai ser mais difícil ganhar muito dinheiro e isso dá motivo para as firmas recuarem."

Não é só o ambiente de negócios enfraquecido que está levando os bancos a conter suas ambições na área de investimento. Executivos do setor estão percebendo que, devido às pesadas perdas potenciais a que estão expostos em fases ruins dos mercados, o negócio simplesmente não é tão atraente como outrora. Além disso, um pequeno número de bancos endinheirados saiu da crise em posições relativamente fortes, tornando mais difícil para concorrentes menores competir.

A maior mudança, contudo, é que novas regulamentações estão tornando os bancos de investimento menos lucrativos. O chamado acordo de Basileia, assinado no ano passado pela maioria dos países que têm bancos internacionais, requer que os bancos façam provisões maiores para cobrir possíveis perdas em certas atividades de banco de investimento. Países como a Suíça e o Reino Unido, cujos setores financeiros precisaram de enormes resgates com dinheiro público, foram ainda mais além nas restrições a seus bancos.

A combinação de regulamentações mais rígidas e a consolidação de poder no setor de banco de investimento por um punhado de instituições gigantescas "vai requerer uma mudança permanente na indústria", uma reforma que já está em andamento entre bancos de investimento europeus de segunda classe, disse Robert Law, um analista de bancos da Nomura Securities em Londres. "Acho que é uma reavaliação definitiva das áreas em que eles querem estar e da lucratividade que podem ter em certas linhas de negócios." Fonte The Wall Street Journal.

Narciso Machado

NCM Business Intelligence

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