20120202

YouTube se transforma em máquina de fazer estrelas

Ninguém precisa mais da mídia para se tornar uma estrela.
A nova economia do entretenimento permitiu a um desbocado artista trabalhando por conta própria criar um negócio altamente lucrativo. Por trás dele não há nenhum conglomerado tradicional de comunicações. Ele é um comediante solitário com um canal do YouTube.

Ray William Johnson vive xingando, vira e mexe faz gestos obscenos e às vezes se fantasia de pinguim, mas ele vem atraindo mais de cinco milhões de expectadores duas vezes por semana com seus vídeos, fazendo dele o canal mais popular do serviço de vídeos on-line da Google Inc.

Conhecido como RayWJ, esse artista de 30 anos transformou-se num ídolo dos adolescentes em todo o mundo, ao esculachar outros vídeos virais do YouTube sobre tópicos que vão desde um hipopótamo defecando até pessoas que grampeiam a cabeça dos seus colegas de trabalho.

Atualmente, a audiência do YouTube supera facilmente a de redes de TV, com mais de 780 milhões de visitantes individuais por mês no mundo todo, de acordo com os dados mais recentes da comScore. Tal audiência está fragmentada em 30.000 canais e milhões de vídeos, mas um pequeno número de personalidades como Johnson atrai uma audiência considerável, pelos padrões tradicionais da indústria.

"Veja algumas dessas grandes estrelas do YouTube, [que] agregam dois, três, quatro milhões de visitas ao conteúdo deles. Isso se equipara a canais a cabo de segundo ou terceiro escalão", diz David Cohen, diretor digital global da Universal McCann, uma empresa da Interpublic Group of Cos. "Esse é um microcosmo do que está acontecendo na comunicações em geral. Estamos indo de um mercado de massas para um mais de nicho, hiperlocal."
Johnson é o protótipo do artista que consegue invocar o poder viral da internet e construir uma carreira fora da mídia tradicional. Ele ganha cerca de US$ 1 milhão de dólares por ano, dizem duas pessoas a par da situação, em parte participando do Programa Parceiro do YouTube, que dá a ele uma porção das receitas com anúncio geradas pelos seus vídeos. Além disso, ele vende produtos como bonecos Ryan William Johnson e aplicativos para iPhones.

"Faço alguns shows. Também sinto atração por mulheres que se parecem com Abraham Lincoln", diz a biografia de Ray na conta Twitter @RayRJ aos seus mais de 800.000 seguidores. Há pouco tempo, 42.000 pessoas "curtiram" um dos seus posts matinais no Facebook. "LOL", dizia o post (a sigla em inglês para "laugh out loud", ou gargalhar). "TENTE ISTO REALMENTE FUNCIONA! :) 1. Prenda a respiração por 20 minutos. 2. Morra."

Bliss D'Andrea, que tem 13 anos e mora em South Adelaide, na Austrália, diz que nunca perdeu um show de Johnson no YouTube. "Ele pode até ser inapropriado às vezes, mas isso é que o torna engraçado", diz ela.

Johnson tem relutado em confirmar ou negar informações sobre ele. Alguns meios o descreveram como tendo 23 anos de idade. Mas ele admitiu que tem 30, depois que o The Wall Street Journal confirmou que ele se formou no ensino médio em 1999. Ele depois frequentou a Faculdade de Estudos Gerais da Universidade Columbia, em Nova York, onde estudou história mas não se formou, segundo a universidade.

Johnson, que agora mora em Los Angeles, recusou repetidas solicitações para uma entrevista, mas respondeu algumas perguntas por email. Sobre a sua carreira, ele escreveu: "Talvez um dia, se eu trabalhar duro o suficiente, entretenimento será uma carreira para mim. Mas neste momento, fazer vídeos e colocá-los na web é apenas um hobby." Ele também contestou a ideia de que esteja ganhando muito dinheiro. "Faço anúncios e vendo camisetas para cobrir os custos básicos e pagar as poucas pessoas que me ajudam nos bastidores", diz ele. "O que sobra cobre custos de produção, custos de animação, etc."

As pessoas associadas ao YouTube, que assinaram acordos de confidencialidade, mantêm silêncio sobre quanto seus maiores artistas recebem. Mas pessoas a par do assunto dizem que, para cada dois milhões de visitas, os artistas que têm parcerias com o YouTube ganham de US$ 3.000 a US$ 9.000, dependendo em parte do país e da plataforma onde o vídeo é assistido. Para colocar isso em perspectiva, Johnson tem mais de 1,5 bilhão de visitas.

Um porta-voz da Google disse que "várias centenas" dos seus parceiros ganharam mais de US$ 100.000 em 2011, 80% a mais do que as "duas centenas" de parceiros que excederam essa cifra em 2010. O número de parceiros do YouTube também subiu de 20.000 em 2010 para 30.000 em 2011, diz Tom Pickett, diretor global de conteúdo, operações e criações on-line do YouTube.

Anúncios de grandes empresas, como a McDonald's Corp., saltam na tela durante os vídeos dos parceiros do YouTube, Jonhson entre eles. A receita com anúncios é então dividida entre o YouTube e o parceiro. "A McDonald's quer estar onde [seus] consumidores estão", diz uma porta-voz. "O YouTube é uma das muitas plataformas digitais mobilizadoras no nosso portfólio de marketing."

Narciso Machado

NCM Business Intelligence

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