20120224

Eles nunca faltaram ao trabalho

Quando o carro de Antônio de Sousa quebrou a caminho do trabalho, ele nem pensou em chamar um reboque. Em vez disso, deixou o carro no acostamento e correu oito quilômetros pelo centro de Tampa, na Flórida, para chegar ao seu emprego de porteiro no Hyatt Regency Hotel. "Fiquei todo suado, mas cheguei na hora certa, exatamente às três", diz ele. Essa corrida de alguns anos atrás o ajudou a atingir o seu recorde atual: 26 anos sem nunca faltar ao trabalho.
Antônio de Sousa, um porteiro no hotel Hyatt Regency de Tampa, na Flórida, desde 1985 nunca faltou um dia sequer ao trabalho.
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Pode ser difícil de acreditar, nesta época de enchentes, epidemias de gripe e horários flexíveis, mas há pessoas que não perderam um só dia de trabalho em décadas. Eles aguentam firme quando ficam doentes e marcam seus eventos e atividades nos fins de semana e nas férias.

Eles dizem, é claro, que não faltam por uma razão: eles amam seu emprego. Alguns também reconhecem que manter a sequência é simplesmente irresistível.

Mesmo assim, poucos empregadores hoje em dia recompensam funcionários com 100% de comparecimento com dinheiro ou presentes, em parte porque não querem que as pessoas venham trabalhar doentes. Além disso, o crescimento dos tipos de trabalhos que podem ser feitos em qualquer lugar mudou o foco dos empregadores. Eles não mais enfatizam o tempo que a pessoa passa fisicamente no emprego, mas querem "levá-los a fazer o melhor trabalho possível" onde quer que estejam, diz Bob Nelson, autor de livros de motivação de funcionários e presidente da Nelson Motivation, de San Diego, Califórnia.

Mas o comparecimento continua sendo importante, tanto para os cargos administrativos como para os não-administrativos, especialmente nas áreas de fabricação, saúde e serviços. E embora alguns funcionários possam tentar burlar o sistema — fingindo estar trabalhando em algum outro local, ou deixando de comunicar as ausências para seus gerentes — nenhuma das pessoas entrevistadas para este artigo disse que desceria a esse nível.

"Eu adoro o meu trabalho", diz Sousa, que tem 53 anos e é português. Ele se lembra do rosto e da ocupação dos hóspedes assíduos, cumprimentando-os pelo nome e perguntando: "'Como vão os seus negócios?' As pessoas adoram falar sobre o trabalho delas. Seus olhos brilham". Seu chefe, Derrick Morrow, o gerente do hotel, chama Sousa de "prefeito de Tampa Street", a rua do hotel, e acrescenta que há pessoas que voltam a se hospedar ali por causa dele. "Ele é o nosso chefe de marketing na porta da frente."

Os colegas de Sousa suspeitam que ele programou o nascimento de seus dois filhos, Natalie e John, em função do emprego. Ambos nasceram no seu dia de folga na época, uma segunda-feira. Ele comemorou os nascimentos e voltou a trabalhar às 3 da tarde na terça-feira, conforme a sua escala. Mesmo ele admite que foi "um tanto estranho". "Foi uma coincidência", acrescenta ele.

Ele e sua esposa Diane, funcionária de uma livraria, desde então já conseguiram pagar os estudos universitários dos filhos, Natalie, hoje com 21 anos, e John, com 23.

Os colegas às vezes se perguntam se esses funcionários tipo maratonistas se dariam melhor em casa. Stacey Taylor em 25 anos nunca faltou ao seu trabalho de enfermeira no Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, no Estado americano de Maryland. "Se eu acordar não me sentindo bem, eu simplesmente penso que logo vou melhorar", diz Taylor, de 50 anos. "Nem passa pela minha cabeça não levantar da cama." Um raro ataque de gripe no ano passado aconteceu bem no seu dia de folga. No trabalho, "tenho a oportunidade de aprender algo novo todos os dias", ouvindo os médicos e farmacêuticos, diz Taylor, que foi promovida a gerente interina da enfermagem. FONTE The Wall Street Journal.


Narciso Machado

NCM Business Intelligence

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