20120207

GM tem meta ambiciosa de lucrar US$ 10 bilhões por ano

Empregados da GM inspecionam uma porta usada em um Chevy Equinox na fábrica de Spring Hill, no Tennessee. Resgatada pelo governo americano apenas três anos atrás, a General Motors Co. contempla agora um objetivo antes impensável: lucrar mais de US$ 10 bilhões por ano. Ela já começou a avançar nessa direção. Em 16 de fevereiro, a GM deve divulgar um lucro líquido de cerca de US$ 8 bilhões em 2011, seu maior até hoje, segundo pessoas que tiveram acesso ao balanço. Por trás desse resultado, que chega quase ao dobro dos US$ 4,7 bilhões de 2010, está o crescimento na China e os altos lucros na América do Norte, onde a GM cortou bilhões de dólares em custos e recentemente vem conseguindo aumentar preços. A GM tem ambições ainda mais altas. Ela pretende nos próximos anos aumentar as suas margens — a parte do faturamento que sobra depois de pagar as despesas — para 10%, disse Daniel Ammann, seu diretor financeiro, numa entrevista ao The Wall Street Journal. Isso representa um salto significativo em relação às margens atuais de 6%, e estaria entre as maiores da indústria automobilística. Será também uma recuperação notável de uma empresa que necessitou de uma injeção de bilhões de dólares em dinheiro público para escapar do colapso em 2009, e mais tarde passou por um processo de concordata traçado pelo governo americano. A GM criou 13.000 empregos nos Estados Unidos desde a concordata e está reabrindo sua fábrica em Spring Hill, no Estado do Tennessee, que antigamente fabricava os carros da hoje extinta marca Saturno e foi fechada durante a reestruturação. Tal sucesso pode tornar mais fácil para o governo federal vender a participação de 26% que ainda tem na GM. Vender pelo preço atual da ação significará um prejuízo de mais de US$ 10 bilhões no investimento feito na GM como parte do resgate. A ação vem se arrastando em meio às grandes perdas da GM na Europa e à preocupação de alguns investidores, tanto com a saúde da indústria automobilística quanto com a possibilidade de que uma volumosa venda do governo derrube o preço da ação. O resgate e a reestruturação ajudaram a GM a eliminar cerca de US$ 40 bilhões em obrigações e a livrar-se das dívidas. A situação contrasta com a da Ford Motor Co., que não teve resgate e ainda está pagando os US$ 23 bilhões que tomou emprestado para sobreviver. A GM quase não pagou impostos federais corporativos durante anos, como uma condição do resgate. Nos dois anos desde então, a GM e a Ford voltaram a uma sólida lucratividade, ao passo que a Chrysler Group LLC, que foi considerada a que tinha a menor chance de sobreviver, anunciou na semana passada o seu primeiro lucro líquido anual desde a concordata. Agora, "temos a mira nos nossos melhores colegas de classe", disse Ammann, da GM, referindo-se à sul-coreana Hyundai Motor Co. e à alemã BMW AG, ambas com um retorno sobre vendas em 2011 estimado em 10%. Há quem duvide. Mas, se a GM atingir mesmo essas margens — que englobam lucro operacional mais ganhos não operacionais e o lucro das participações que a GM tem em outras montadoras —, elas permitirão à empresa gerar até US$ 15 bilhões em lucros e alcançar um lucro líquido recorde acima de US$ 10 bilhões, considerando a receita da GM em 2011. Essa receita é estimada em torno de US$ 150 bilhões. A GM confirmou esse cálculo dos lucros. Ammannn reconheceu que a GM tem um longo caminho pela frente, em particular quanto a alavancar a presença global da companhia para gerar economias. "Nós temos lacunas quando comparados aos nossos melhores colegas de classe, e deixamos bem claro que sabemos onde essas lacunas estão", disse ele. Adam Jonas, analista da indústria automobilística para o banco Morgan Stanley, disse duvidar de que a GM obterá margens mais altas num futuro próximo, por causa dos problemas na Europa e a competição acirrada em casa, além de uma provável redução na produção de caminhonetes.
Ainda assim, Jonas acredita que, mesmo que a GM não alcance sua meta de margens, as vendas crescentes e a recuperação do mercado de automóveis nos EUA vão certamente mais do que compensar a diferença. Jonas prevê que a GM terá mais de US$ 10 bilhões de lucro líquido em 2013 e mais de US$ 12 bilhões em 2015. As vendas de automóveis nos EUA subiram 10% em 2011, para cerca de 12,8 milhões de unidades. Paul Taylor, economista-chefe da Associação Nacional de Concessionárias, previu que as vendas de carros e caminhonetes no país chegarão a 13,9 milhões este ano, uma alta de cerca de 10%, mas ainda bem abaixo dos níveis de antes da crise econômica, quando as vendas anuais chegavam à casa dos 17 milhões. Lucros de US$ 10 bilhões por ano são raros na maioria das indústrias, embora a Apple Inc. tenha lucrado US$ 25,9 bilhões no ano fiscal encerrado em 24 de setembro, e, nos últimos anos, algumas petrolíferas tenham lucrado US$ 10 bilhões num único trimestre. Em 2010, 17 empresas americanas de capital aberto divulgaram um lucro líquido de US$ 10 bilhões ou mais. Gerar lucros como esses é raro numa indústria de capital intensivo como a automobilística, em que as companhias têm de esperar anos pelo retorno dos bilhões de dólares gastos em novos modelos e fábricas. A Toyota Motor Corp., entretanto, lucrou no mínimo US$ 10 bilhões por quatro anos consecutivos, desde 2003 até 2007. E, nos primeiros três trimestres de 2011, a Volkswagen AG lucrou US$ 17 bilhões, ajudada pelos US$ 9 bilhões de lucro sobre as ações da Porsche. No mesmo período de nove meses, a GM lucrou US$ 7,2 bilhões, com uma margem de 6,4%. A GM recebeu uma grande ajuda para controlar custos do programa de resgate do governo, que chegou quando as grandes montadoras de Detroit estava à beira do colapso, no final de 2008. As vendas despencaram e o acesso das empresas a empréstimos diminuiu. O Congresso dos EUA rejeitou um pacote de resgate para as montadoras, mas o ex-presidente George W. Bush, em sua última semana no poder, aprovou uma ajuda para a GM e a Chrysler. Em março de 2009, o governo do presidente Barack Obama deu mais US$ 30 bilhões à GM, levando o total da ajuda para perto de US$ 50 bilhões. Os EUA então removeram o diretor-presidente Rick Wagoner da GM e exigiram que a Chrysler e a montadora italiana Fiat SpA se associassem, antes de submeter a GM e a Chrysler a breves concordatas. Mesmo com uma estrutura mais enxuta, alcançar uma margem de 10% não será nada fácil para a GM. Fora da América do Norte e da China, a empresa está perdendo dinheiro. Sua filial na Austrália está tentando obter empréstimos do governo e há pouco tempo cortou cem empregos temporários. No Brasil, a concorrência com a Fiat torna as coisas mais difíceis. De modo geral na América do Sul, onde os modelos da GM estão ultrapassados, a companhia pena para evitar prejuízos. "Os consumidores da região exigem produtos atuais e muito bons, e a GM está atrás", disse Brian Johnson, analista do banco Barclays Capital. Na Europa, onde a GM sente o peso do alto custo da mão de obra, a companhia vem tendo prejuízo há mais de dez anos. Ela até aumentou seus custos com engenharia e fabricação. "É óbvio que ainda temos trabalho a fazer", disse Ammann. A GM também se depara com o que promete ser um ano duro no mercado doméstico. A Toyota e a Honda Motor Co. voltaram à produção máxima, depois de sofrer com falta de peças no ano passado devido ao terremoto e tsunami no Japão. Ammann está se preparando para cortar bilhões de dólares a mais dos custos e ao mesmo tempo impulsionar a receita, através do crescimento nas vendas globais e redução de incentivos para alguns modelos, diz ele. Um objetivo é ter menos "plataformas" de automóveis. A GM pretende fabricar no mundo todo veículos feitos como as mesmas peças básicas e montados em fábricas que usam o mesmo tipo de equipamento — e assim reduzir seu imenso orçamento de engenharia. A GM tinha 30 plataformas em 2010. Sua meta é reduzir esse número para 24 até 2014 e para 14 até 2018.
A Volkswagen e a Ford saíram na frente nessa corrida. A Ford planeja usar apenas cinco plataformas comuns para efetuar 75% das suas vendas até a metade da década. No mundo todo, a Ford lucrou US$ 300 a mais que a GM por veículo vendido, até setembro. Além de cortar custos, a GM também precisa mudar a sua cultura. Durante décadas, a empresa se concentrou em vender o maior número de carros possível e ganhar mais mercado, às vezes sacrificando os lucros. De acordo com os executivos da GM, atingir uma margem mais saudável está se tornando o principal foco da empresa. Os bônus anuais dos executivos, por exemplo, são em grande parte baseados nas margens da companhia. Recentemente, a GM divulgou resultados de vendas mundiais que mostram que ela retomou da Toyota o título de maior fabricante de automóveis do mundo. Perguntaram a Daniel Akerson, o diretor-presidente da GM, como ele se sentia recuperando a coroa. A GM, respondeu ele, precisa se concentrar "nos lucros e nas margens e não necessariamente em exibir números num quadro". Fonte The Wall Street Journal. Narciso Machado NCM Business Intelligence

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