20111017

Todos se beneficiam com a presença de um Imbecil (SOB) no conselho


Na semana passada, durante um jantar, estive sentada perto de uma mulher que preside os conselhos de administração de várias empresas. Estávamos falando sobre a diversidade nos boards e ela subitamente declarou: "Sempre me certifico que haja um m... em cada um de meus conselhos".

Tive vontade de beijá-la. Não foi apenas a palavra, tão impetuosa em contraste com as baboseiras amenas que quase todo mundo diz quando discute a diversidade. Foi também a sensação estimulante que me deixou maravilhada, mesmo que eu tivesse alguma desconfiança de que ela poderia estar errada. Certamente eu protestei: o número ideal de egos em um conselho é zero?

Ela me olhou com um ar exagerado de paciência, como se eu fosse uma criança amável, ainda que vaga. Eu estava cometendo o erro básico, disse ela, de confundir egos com m...

O ego não tem lugar em nenhum conselho de administração, uma vez que ele está interessado apenas em si mesmo. Um ego não ajuda quando você está tentando examinar riscos corporativos.

O argumento para os Shits on Boards (SOBs, os m... nos conselhos) é bem diferente.

Um SOB é alguém que não se importa com o que os outros pensam dele e, assim, é de manutenção barata. Já um ego exige admiração e atenção infinitas. Um SOB não liga se perturba as pessoas, não se importa em criar laços e gosta de provocar agitação. Eles são pessoas das quais ninguém gosta, mas sua torpeza é útil.

Pensando nisso agora, posso ver que os SOBs representam muitas funções. Eles atacam com tudo, deixando para o presidente do conselho o dever de contê-los antes que algum dano sério seja provocado. O ataque dos SOBs deixa o caminho aberto para os membros do conselho mais refinados e construtivos atuarem com mais empenho do que fariam normalmente.

O SOB também tem outros usos. Ele impede as coisas de ficarem acomodadas demais em torno da mesa de reuniões e é alguém inofensivo para ser atacado pelos outros.

Os argumentos a favor dos SOBs são tão convincentes que deveria haver cotas para se certificar de que toda companhia teria uma besta dessas em seu conselho de administração. Segundo minha nova amiga, o número ideal de SOBs em uma mesa de reuniões é um- implicando em uma cota de cerca de 10%. Mais do que isso significa confrontos em excesso.

Entretanto, esse esquema pode ser mais difícil de ser implementado do que outros envolvendo cotas. Se você é uma mulher, todos sabem que você é uma. Mas se você for um SOB, poderá não pensar isso a seu respeito. O sistema teria de operar à moda de um jogo de pôquer: se você não consegue perceber quem é o idiota, isso significa que é você.

Há outra razão para não haver necessidade de uma cota formal de SOBs: há muita oferta deles. O problema não é colocar um deles no conselho, e sim não colocar meia dúzia.

Garantir uma diversidade de pessoas agradáveis e chatas parece ser uma maneira melhor de se obter a diversidade de pensamento (que é o objeto deste exercício), do que usar a divisão entre homens e mulheres. Mesmo assim, toda as semanas o lobby das WOBs (Women on Boards, ou Mulheres nos Conselhos) grita cada vez mais alto. Na semana passada, a consultoria especializada em administração Hay Group publicou uma pesquisa aparentemente chocante sobre grandes empresas europeias, mostrando que as mulheres diretoras recebem em média salários 7% menores que os homens. A razão disso é que elas estão pouco representadas nos comitês de auditoria e risco.

Não consigo ver o que há de tão ruim nisso. O adicional que os diretores recebem por participarem desses comitês- € 11 mil (R$ 26, 4 mil) por ano - não parece muita coisa quando você pensa no tempo gasto ali, e em todos os detalhes e responsabilidades extras que eles carregam quando as coisas dão errado.

Minha principal sensação por não participar do comitê de auditoria da companhia em que sou diretora não executiva não é de ultraje, e sim de alívio. A pesquisa também afirma que um número muito pequeno de companhias é presidido por mulheres. Se todas as WOBs fossem iguais àquela da qual me sentei perto no jantar da semana passada, eu concordaria: a cota para as mulheres presidentes de conselhos de administração deveria ser de 100%.

Mas que pena! Não é. As mulheres podem ser sinceras ou tagarelas demais. A última presidente de conselho com quem me encontrei também tomou como sua responsabilidade explicar seu sistema de composição do board, para a qual ela também tinha uma sigla. A dela era ABC - Attitude, Behaviours, Commitment (Atitude, Comportamento, Compromisso). Os ABCs também têm um lugar no mundo, que é a escola primária. No âmbito do conselho, prefiro os SOBs o tempo inteiro.
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times".

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