20111012

Executivos europeus vêm buscar emprego no Brasil


No fim do ano passado, o português João Nuno Carvalho pediu demissão do cargo de gerente de marketing na Switchboard, empresa do setor de automação onde atuou por pouco mais de dois anos. Preocupado com a crise na Europa, o executivo sentia que seu país de origem não oferecia segurança e boas oportunidades profissionais. Decidiu, então, mudar-se para o Brasil.

Casado com uma brasileira que conheceu ainda em Portugal, Carvalho visitou o país com frequência nos últimos anos e achou que já conhecia o mercado local o suficiente para tentar uma colocação. "Com o tempo, fui construindo uma rede de contatos que me permitiu arriscar a mudança." A decisão, segundo ele, foi acertada. Depois de alguns meses atuando como consultor, o executivo foi convidado a assumir o cargo de gerente de marketing na Latina Eletrodomésticos, indústria brasileira com sede em São Carlos, no interior do Estado de São Paulo.

A trajetória de Carvalho não é incomum. Assim como ele, outros executivos de regiões em crise estão abrindo mão de seus empregos para buscar uma oportunidade profissional no Brasil. "É uma tendência praticamente irreversível. Além de ter entrado no cenário global de atração de investimentos, o país tem uma adaptação cultural mais fácil do que na China e na Índia, por exemplo", afirma Marcelo de Lucca, diretor da Michael Page.

Isso, porém, não garante o sucesso desses executivos no mercado. Lucca explica que domínio do idioma e experiência com o ambiente de negócios do país continuam sendo exigências quase unânimes entre as empresas que contratam estrangeiros. Por esse motivo, a maior parte dos profissionais que decide se demitir e migrar para o Brasil já conhece o país e muitos vieram como expatriados no passado.

Desde janeiro trabalhando como gerente de planejamento financeiro na empresa de engenharia Poÿry, o francês Hubert Mercier é um exemplo. Após viver por três anos no Rio de Janeiro trabalhando em uma multinacional do setor de óleo e gás, ele foi chamado de volta pela matriz na França. Mercier pediu demissão pouco tempo depois e decidiu retornar ao Brasil. "Foi difícil sair daqui depois de ter me acostumado. Na Europa, só ouvia falar da crise e de como tudo estava ficando pior", afirma. A diferença na remuneração também foi determinante para a sua decisão. A combinação de câmbio valorizado e mercado aquecido fez com que Mercier ganhasse um salário 40% maior ao que recebia na França.

João Marques Fonseca, diretor da empresa de gestão de expatriados Emdoc, afirma que a moeda forte e as boas oportunidades influenciam estrangeiros que já estão temporariamente no Brasil a desistir de seus empregos nas multinacionais. "Muitos têm aceitado propostas interessantes de concorrentes, especialmente em níveis mais altos."

Uma forma de reter esses profissionais tem sido oferecer salários competitivos com o mercado local. Na Basf, indústria química com sede na Alemanha, uma das soluções para tornar a expatriação mais vantajosa foi reformular o programa de transferências internacionais. Há dois anos, o cálculo de remuneração mudou. "Fizemos uma pesquisa salarial no mercado para tornar essa política mais competitiva, uma vez que o câmbio já estava se valorizando no Brasil", diz a coordenadora Beatrice Koopmann.

A mudança deu resultados: até junho deste ano, a Basf trouxe 86 expatriados para o Brasil - em 2010, foram 30. O crescimento foi motivado pelo bom momento da companhia no país, que se tornou um dos destinos preferidos para os estrangeiros. A empresa, porém, não tem recebido pedidos para prorrogação ou transferência definitiva. "Essa é uma decisão pessoal que leva em consideração fatores como planejamento familiar e profissional", afirma.

Segundo Fonseca, da Emdoc, a decisão de estabilizar a rotina é muito frequente entre executivos que vêm para o Brasil via programas de transferência. "Sempre houve esse encanto pelo país, mas agora eles estão encontrando também um porto seguro profissional", afirma.

Esse foi o motivo que fez com que o francês Benoit Keruzore decidisse permanecer no Brasil depois de construir carreira nos Estados Unidos. Por ter vivido no país dos 9 aos 17 anos, o executivo conhecia as particularidades locais e foi transferido em 2002 para desenvolver o projeto de uma empresa americana na América Latina. Quando a companhia encerrou suas operações na região, ele foi chamado de volta, mas decidiu permanecer. Oportunidades de trabalho, de acordo com ele, não faltaram. "Ter atuado em diferentes mercados e falar várias línguas, principalmente o português, ajudou muito", afirma.

Contratado recentemente como CFO da seguradora J. Malucelli, uma empresa nacional, Keruzore explica que trabalhar no país foi benéfico tanto no lado profissional quanto no pessoal - ele é casado com uma brasileira. "Além de ter mais qualidade de vida, estou no país com as melhores oportunidades de carreira", afirma.
Fonte: Por Vívian Soares – JORNAL VALOR | De São Paulo

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