20110620

Felicidade é ganhar dinheiro, exercer o controle e competir.

Poucas coisas me deixam mais irritada do que ler sobre a felicidade. Nos últimos anos, uma biblioteca inteira de títulos deploráveis sobre o assunto vem sendo publicada, incluindo, em ordem crescente de bizarrice, "Happier", "The How of Happiness", "Happiness Now!", "Delivering Happiness", "Authentic Happiness", "The Happiness Makeover" e "Getting to Happy".
Eu costumava pensar que não era possível conseguir a felicidade lendo um livro. Pelo menos não quando o assunto do livro era a felicidade. Fiquei feliz recentemente ao reler "One Fat Englishman" de Kindsley Amis, mas ele trata de luxúria, gula e indolência - e, portanto, não conta. Entretanto, recebi um livro sobre a felicidade que me deixou extraordinariamente contente. Seu título é "Rush: Why You Need and Love the Rat Race", escrito por um californiano de olhos azuis chamado Todd G. Buchholz, que já foi consultor econômico da Casa Branca.
"Rush" é diferente dos outros livros que nos dizem que precisamos diminuir o ritmo, "investir" nos relacionamentos, meditar, sorrir, praticar ioga, pintar quadros, tocar um instrumento musical e recorrer a Deus. Esses livros fazem eu me sentir miserável de duas maneiras - primeiro, porque quando fico imaginando se sou ou não feliz, acabo chorando. Segundo, porque esses comandos me enchem de dúvidas sobre minha própria vida maravilhosa, que envolve correr atrás de dinheiro, brigar com a família, fazer compras e ir para a cama com Kingsley Amis.
Assim, é um alívio recorrer a "Rush" e ver que o verdadeiro caminho para a felicidade envolve fazer o que a maioria de nós faz o tempo todo, gostemos ou não: trabalhar. O estresse, diz o livro, nos faz felizes. A competição é uma coisa boa; sem ela não seríamos apenas infelizes, teríamos morrido há muito tempo. Ela não nos faz egoístas, ela nos torna cooperativos.
A aposentadoria é ruim na medida em que deixa uma pessoa tediosa. Trabalhar nos fins de semana é bom porque mostra que você é necessário e isso é o que a maior parte de nós quer. Também não há nada de errado em ganhar muito dinheiro, porque é um sinal claro de alguém gosta de você. O melhor de tudo, do meu ponto de vista (dado que minhas tendências controladoras são ridicularizadas pelo menos uma vez por dia em casa), é que é bom ser um controlador obsessivo. Com o controle vem a felicidade.
Peguei-me concordando com tanta coisa que quase desloquei o pescoço. Não há problema nenhum em Buchholz pensar assim, uma vez que a corrida para o topo lhe fez tão bem. Na orelha do livro ele se descreve como "um premiado professor de Harvard", diretor-gerente de um fundo de hedge e produtor de uma peça na Broadway, também vencedora de prêmios. É mais fácil ver os prazeres da competição quando você é um dos que estão recebendo prêmios.
No entanto, ele não fala apenas de si e usa a antropologia, a economia e a neurociência para dar suporte à sua tese. Nossos córtex frontais adoram quando seguimos adiante. Recebemos uma "injeção" de dopamina e serotonina quando assumimos uma nova tarefa; somos banhados pela oxitocina enquanto conversamos com os colegas; quando somos bem-sucedidos, recebemos uma dose de betaendorfinas, tão eficiente quanto cocaína.
Mas não preciso invocar meu lobo frontal para saber que ele está certo a meu respeito. Sei que sou mais feliz quando trabalho duro e bem. Acho que me perder é muito mais recompensador do que ficar tentando me encontrar. Trabalhar duro faz você se sentir melhor e, depois de um período prolongado, você se sente capaz de apreciar um pouco de permissividade com mais alegria.
Agora que ele me mostrou que não sou uma pessoa ruim ou vazia por encontrar a felicidade em ganhar dinheiro, exercer controle ou competir, estou inclinada a ser condescendente em relação aos defeitos dos outros na busca pela felicidade. "The Fat Englishman" pode mergulhar na fornicação e no frango frito, enquanto outros preferem sorrir o dia todo e fazer a posição do "cachorro inclinado" na ioga. O mais interessante em relação à felicidade é que não há competição para ela: a oferta é elástica, de modo que as pessoas podem fazer o que quiserem, desde que não me perturbem.
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times".

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