20110628

Compulsão por agradar pode trazer muitos problemas

Duas mulheres, ambas ocupadas até o pescoço com problemas diferentes, deram na semana passada a mesma desculpa para explicar lapsos em seus comportamentos. Cada uma disse estar sofrendo de uma nova condição debilitante - a compulsão por agradar as pessoas.

Danielle Chiesi, a analista de fundos de hedge que admitiu ter passado informações privilegiadas para Raj Rajaratnam e outros, fez seus advogados dizerem em um tribunal que ela foi "motivada por um desejo doentio e anormal de agradar". Seu médico disse que ela tem transtorno de personalidade limítrofe, e por isso, o juiz está sendo solicitado a reduzir o tempo que ela vai passar na cadeia.

Dois dias antes, Sarah Ferguson apresentou uma desculpa parecida ao abrir seu coração no programa da apresentadora americana Oprah Winfrey. A razão de ela ter caído em um golpe de um jornalista do "News of the World", que lhe ofereceu 500 mil libras em troca de ele ser apresentado ao seu ex, o Príncipe Andrew, f oi que "meu vício em agradar as pessoas me mantém viva".

No caso de Chiesi, a ânsia anormal por agradar assumiu a forma de um caso "tóxico" de quase 20 anos com Mark Kurland, seu chefe no banco Bear Stearns que, segundo a petição à corte, a tratava praticamente como uma "criada". Ela passou informações privilegiadas a ele não para lucrar com isso, mas simplesmente para agradá-lo. No caso de Fergie, é mais difícil ver quem ela estava tentando agradar e o motivo disso. Ao cair no golpe, ela não agradou a família real, embora eu suponha que indiretamente ela agradou milhões de leitores de jornais que não se interessam por histórias que não sejam as últimas trapalhadas de Fergie.

Para entender melhor essa condição compulsiva, consultei o American AllPsych de desordens psiquiátricas, mas não consegui encontrá-la em nenhum lugar da lista. No entanto, a internet está cheia de especialistas que tratam da gravidade desse vício. A "doença do agrado" aparentemente é uma condição perigosa que deriva da baixa autoestima e que pode levar a um sofrimento terrível e até mesmo ao suicídio.

Sim, posso pensar em outra condição que me preocupa ainda mais que a doença do agrado. É a doença do desagrado. A maioria dos criminosos certamente sofre de um desejo doentio e anormal de provocar sofrimento em suas vítimas. Tanto que é de se imaginar por que advogados e médicos não entendem isso quando tentam também reduzir as sentenças dessas pessoas.

Essa condição não afeta apenas os bandidos. Ela também é comum entre jornalistas e escritores, que parecem viciados em contrariar uns aos outros. V.S. Naipaul, que recentemente disse que nenhuma escritora se iguala a ele, certamente é um sofredor clássico. A condição é ainda mais comum entre os adolescentes, quase todos perigosamente viciados em contrariar os pais. O resultado é trágico, medido em portas batendo, sessões de bebedeira e gravidez indesejada.

Em comparação, o vício em agradar me parece relativamente benigno. Meus próprios piores lapsos de comportamento tendem a ocorrer não quando quero agradar outras pessoas, e sim quando me empenho em agradar a mim mesma. Longe de algo sinistro, agradar as pessoas é a própria base da civilização - e do capitalismo. A vida no trabalho não funcionaria se não sofrêssemos todos da doença do agrado.

Na verdade, no competitivo e moderno mundo corporativo, agradar está mais na moda do que nunca. As empresas costumavam prestar atenção na satisfação dos clientes; agora elas precisam encantá-los. Os administradores precisam agradar os acionistas. Os trabalhadores precisam agradar os chefes. Somente por meio do agrado o sucesso vem. Entretanto, vejo que isso às vezes pode sair de controle, como Fergie e Chiesi constataram. A boa notícia é que há três regras simples para se agradar com segurança.

Primeiro, você precisa agradar a pessoa certa. Você não pode fazer isso com todos, de modo que é importante identificar quem precisa ser mais agradado. Por exemplo, no trabalho é quase sempre uma boa ideia agradar quem está acima de você na hierarquia. Quase nunca é uma boa ideia agradar pessoas que são jornalistas do "News of the World" disfarçados. Em segundo, vale averiguar se a pessoa não é criminosa. Se for, melhor não tentar agradá-la. Por fim, ao tentar agradar seu chefe, é importante fazer isso de maneiras que sejam a) legais e b) envolvam o uso de roupas o tempo todo.

As pessoas que não conseguem agir de acordo com essas três regras certamente não sofrem da doença do agrado extrema, e sim da doença do julgamento ruim. A diferença é que, embora igualmente terrível em seus efeitos, ela poderá não influenciar na decisão de um juiz. Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times".

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