20140703

Como calar aquele tagarela do escritório

O bate papo ininterrupto entre pessoas no escritório é uma fonte de tensão em muitos locais de trabalho.
Muitos contam os mínimos detalhes de suas façanhas românticas, brigas conjugais, problemas financeiros, cirurgias recentes ou os últimos disparates de suas sogras, quer os colegas mostrem interesse ou não.

Esquivar-se desses colegas de escritório que compartilham sua vida em excesso pode ser um desafio difícil. Eles são como um livro aberto, mas na versão "audiobook".

Amelia Blanquera foi perturbada durante meses por um colega de trabalho que queria falar sobre seus problemas familiares, namoro e experimentos com novos estilos de ioga. Ela tentou desencorajá-lo mudando-se para uma mesa no centro do escritório para dificultar as conversas. Ela também passou a usar fones de ouvido, que colocava assim que ele aparecia em sua mesa. "Eu estou tentando trabalhar", dizia Blanquera, que é procuradora da cidade de Nova York e escritora.

A gota d'água foi quando o colega quis mostrar um livro de ioga tântrica e ela disse rispidamente: "Eu não tenho tempo". Eles acabaram negociando um acordo para ele parar de interrompê-la tanto. "Ele precisava de um terapeuta, um bom amigo ou uma companheira, o que acabou conseguindo" quando começou a namorar alguém fora do escritório, diz a procuradora.

Mais de três a cada cinco funcionários afirmam que eles têm pelo menos um colega de trabalho que se excede no compartilhamento de sua vida pessoal uma vez por semana ou mais, de acordo com uma pesquisa entre 514 funcionários de empresas feito pela SurveyMonkey Audience.

Aqueles que falam em excesso acabam perturbando os colegas e arriscam não apenas prejudicar suas próprias carreiras como as de outros. Para intervir, é necessário elegância, porque muitos desses "tagarelas" são frágeis e desprovidos de traquejo social. Muitos precisam de feedback direto e explícito para que reconheçam as necessidades emocionais ou desejos que os levam a falar em excesso.

Uma advogada de um escritório especializado em mediação de divórcios na Califórnia não percebia como suas conversas ininterruptas sobre seus problemas com o marido estavam afetando os colegas. A advogada estava "usando o escritório para desabafar, processar e tentar encontrar soluções" para seus problemas, e os colegas estavam se queixando, diz Nancy Fagan, proprietária do escritório.

Fagan chamou a advogada, assegurou-a que seu emprego não estava em perigo e a instruiu a parar de usar o ambiente de trabalho para resolver seus problemas. Ela também recomendou que a advogada procurasse um terapeuta e a conversa incessante teve fim.

Certos excessos estão vinculados a atributos que são úteis no trabalho. Billy Bauer adora se gabar dos dólares obtidos em suas vendas mais recentes como diretor de marketing da fabricante de produtos de couro Royce Leather, de New Jersey. Recentemente, ele anunciou para os colegas que vendeu US$ 40.000 em uma semana, e poucos meses antes havia se vangloriado de ter atingido a marca de US$ 1 milhão pelo segundo ano consecutivo.

Andrew Royce Bauer, irmão de Billy, é o diretor-presidente da empresa e diz que nunca recebeu queixas dos colegas, mas se preocupa com os exageros do irmão, que podem deixar os funcionários desconfortáveis.

Já Billy acredita que seus anúncios frequentes são parte da mesma personalidade extrovertida que o torna um vendedor de sucesso.

Os gestores andam na corda bamba tentando reduzir a falação indesejável no escritório numa era em que conversas francas estão em voga. Matthew Reischer quer criar uma atmosfera familiar em sua jovem empresa de serviços jurídicos, a LegalAdvice.com. Mas ele não aprova quando os empregados compartilham as histórias acumuladas em noites passadas bebendo e socializando com os colegas em um bar próximo. Reischer não se importa se a histórias são um intercâmbio entre duas pessoas, "mas os limites são diferentes no ambiente coletivo de trabalho", diz ele, que já pediu a dois funcionários que tenham um pouco mais de controle.

Conversas pessoais caem bem quando são relevantes para as tarefas que estão sendo executadas e têm o objetivo de fortalecer a equipe, em vez de atrair a atenção para alguém. Lisa Rosh, professora assistente de administração da Universidade Yeshiva, de Nova York, lembra de uma executiva do setor hospitalar tentando acalmar os empregados que estavam preocupados com a possibilidade de perder o emprego em uma reorganização planejada. A executiva contou a eles detalhes de como havia sido demitida no passado, acrescentando que esperava cortar custos sem demissões. Convencidos de que ela entendia seus medos, os funcionários se acalmaram, diz ela.

Muitos tagarelas não respeitam essas regras. Alguns são egoístas e narcisistas e "acham que você quer saber todos os detalhes de suas vidas", diz Alain Hilfer, diretor de psicologia do Centro Médico Maimonides, em Nova York. Narcisistas falam sobre eventos relevantes ou triviais como se eles tivessem a mesma importância e dando o mesmo peso para "Minha mãe morreu na semana passada" e "Comi frango ontem à noite e foi o melhor da minha vida", diz ele.

A ansiedade leva algumas pessoas a dizer a primeira coisa que lhes vem à cabeça, diz Aimee Cohen, uma consultora de carreira de Denver e autora de "Woman Up", um livro que dá dicas de como as mulheres podem superar obstáculos inconscientes para atingir o sucesso. As mulheres, em particular, tendem a "se concentrar naquilo que as fazem se sentir mal", diz Cohen.

Ela aconselha clientes a falar sobre si mesmos em termos positivos. Ela também sugere evitar certos tópicos como salário, sexo, drogas, álcool, problemas médicos, relacionamentos dramáticos ou visões negativas sobre o chefe, colegas de trabalho, clientes ou empresas.

Para reduzir a falação dos colegas, evite julgar ou rotular. Em vez disso, descreva o impacto que o excesso de compartilhamento tem sobre você, de forma direta e honesta, diz Rosh. Fonte The Wall Street Journal.

www.narcisomachado.com.br

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