20140730

A busca de emprego na era das redes

Reid Hoffman, um dos fundadores do LinkedIn.

Para uma rua que já viu a criação de fortunas de trilhões de dólares, a Sand Hill Road, em Menlo Park, Califórnia, a meca do capital de risco, é bem modesta. Um prédio abriga a Greylock Partners, onde estou em uma sala com o empresário Reid Hoffman, que esteve no meio da criação dessas fortunas e agora prevê que vem alguma destruição por aí. "Se as empresas não compreenderem que estão operando em uma era de redes", diz ele, "então provavelmente elas estão no caminho da extinção".

Hoffman, de 47 anos, construiu sua reputação ao fundar a plataforma de relacionamento social e de negócios LinkedIn e trabalhando como diretor de operações do site de comércio eletrônico PayPal, ambos negócios de bilhões de dólares. Ele foi um investidor inicial no YouTube, Yelp, Flickr, Zynga e, sim, no Facebook.

Ele tem uma teoria sobre como os negócios de risco dão certo: entendendo que a informação não está mais isolada, mas instantaneamente conectada com tudo. É o que ele chama de mudança da era da informação para a era das redes. Hoffman acredita que a transformação está apenas começando e vai passar sobre tudo o que estiver no caminho.

Mas o que é rede? É uma identidade, explica ele, e como essa identidade interage com outras por meio de comunicações e transações. Ela não está apenas on-line, no Facebook e no Twitter, mas em todos os lugares. É a soma dessas comunicações, conversas e interações.

"Sua identidade agora é constituída pela rede", diz ele. "Você é seus amigos, você é sua tribo, você é sua interação com seus colegas, seus clientes, até mesmo seus concorrentes. Todas essas coisas formam sua reputação." Resumindo, você não é o único que controla o seu currículo.

Na Universidade de Stanford, ele estudou Sistemas Simbólicos e filosofia na Universidade de Oxford, experiências que influenciaram sua visão sobre como as pessoas se comunicam. Mas ele não gostou da ausência do lado prático da academia e desistiu da carreira intelectual.

Ele ainda queria, contudo, formatar como a sociedade se comunica e pensou que "o jeito de fazer isso poderia ser criando objetos de mídia com os quais as pessoas poderiam interagir e fizessem com que elas interagissem umas com as outras."

Hoffman teve uma ideia para um administrador de informações pessoais, mas conseguir dinheiro foi difícil. Então para ajudar a criar algo chamado eWorld, uma plataforma on-line que ofereceria e-mail, notícias e outros serviços. O navegador Netscape estava funcionando nessa época e Hoffman esperava que os executivos da Apple buscassem o mesmo conceito de internet aberta, ferramentas para navegação em vez de sistemas fechados como o eWorld. Os gestores não deram ouvidos e Hoffman ficando "em dúvida se novos projetos ousados poderiam ser realizados em grandes empresas".

Mais do que nunca, diz, ele se convenceu que uma era interconectada estava chegando e seria guiada pela seguinte proposta: "como viver melhor na 'vida real' com o mundo eletrônico como uma espécie de superposição?"

Em 1997, ele criou a SocialNet,focada no já então saturado mercado de sites de relacionamento, conectando pessoas com interesses similares. Em janeiro de 2000, ele se uniu à PayPal, criada em 1998, que entre seus fundadores tinha um amigo seu, Peter Thiel. Hoffman ajudaria a resolver alguns problemas para que depois a empresa fosse vendida. Hoffman diz que notou rapidamente que o PayPal apenas conectava o dinheiro que operava fora das redes próprias de crédito. Com a venda do PayPal em 2003 para o eBay, por mais de US$ 1 bilhão, a fatia que Hoffman recebeu permitiu que ele ficasse livre para construir a plataforma dos seus sonhos, focada em reputação e identidade, enquanto acrescentava comunicação, permitindo que o mundo digital fosse finalmente uma sobreposição do mundo real.

Foi então que ele criou uma sobreposição eletrônica do mundo profissional. Até então, as pessoas armazenavam os dados de sua vida profissional em currículos: educação, ex-empregadores, atividades e talvez uma ou duas referências para quem alguém no departamento de recursos humanos quisesse. Ele queria digitalizar o currículo, mas isso era só o início. Como na vida real, ele acreditava que a verdadeira reputação é composta pelo que todos pensam sobre você.

Ele começou o LinkedIn em sua sala de estar em dezembro de 2002 com alguns colegas da SocialNet. Outros executivos do PayPal ajudaram com os recursos iniciais e a empresa de capital de risco Greylock Partners acabou se juntando ao grupo. Rapidamente, o site se transformou no lugar onde colocar o currículo. A era das redes estava a caminho em outros lugares, com o crescimento do Facebook e do eBay, mas o LinkedIn a profissionalizou. O site reuniu conhecimento e poder: aqueles em busca de empregos sabiam onde procurar e os empregadores poderiam se conectar com as pessoas com as habilidades necessárias.

Ao contrário do PayPal, o LinkedIn teve um início lento. Hoffman diz que ter uma identidade profissional não significa que você é desleal para sua empresa ou que está procurando emprego. Os departamentos de recursos humanos gostaram das facilidades para encontrar funcionários, mas não queriam perder seus talentos. "Eles prefeririam que seus empregados ficassem completamente escondidos do mundo."

Hoffman disse que as empresas resistiram no início. Mas isso não fez com que os funcionários deixassem de usar o site. Ele acredita que as empresas ainda não descobriram como usar o LinkedIn e outras plataformas para seu benefício.

"Todas as empresas estão sendo afetadas pela globalização e pela ruptura tecnológica. O que significa que os ciclos de inovação e adaptação estão ficando cada vez menores." Como você torna sua empresa mais adaptável? "A resposta é que você precisa de pessoas maleáveis trabalhando para você", criando um efeito de rede.

Encontrar esses funcionários adaptáveis é uma coisa, mantê-los é outra. O LinkedIn força as empresas a trabalharem nisso. "O que todos sabem", diz Hoffman, "é que quando você contrata alguém, existe uma boa chance de eles acabarem trabalhando para mais alguém. Os funcionários sabem que há alguma possibilidade de que o trabalho que eles têm pode acabar em algum momento." Como consequência desse temor, as pessoas também se apresentam para outras empresas, uma estratégia facilitada pelo LinkedIn. "Isso não permite que você invista no futuro. Você precisa manter os funcionários progredindo em suas carreiras." Esse investimento em capital humano é uma grande parte da era das redes. Fonte: Publicado no The Wall Street Journal.

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