20120420

Jovens empreendedores cortejam investidor em 'balada' de negócios

O Vale do Silício inspira empreendedorismo e oportunidades de investimento em bons projetos. Quem mora por lá pode encontrar investidores e empreendedores às manhãs nas cafeterias ou em bares à noite. O assunto preferido? Oportunidades de ganhos com empreendedorismo e inovação. Por aqui, ainda não temos um "Vale do Brasilício" - como costuma dizer Diego Remus, sócio do blog Startupi e diretor para o Estado de São Paulo da Associação Brasileira de Startups (ABS) -, mas os 'meetups', encontros de empreendedorismo frequentados pela nova geração de empresários, crescem a cada dia. A atmosfera é de camaradagem. Jovens compartilham seus conhecimentos, escutam conselheiros e executivos mais experientes e conversam com potenciais investidores, como fundos de 'venture capital' e anjos.

Bob Wollheim, sócio-fundador da plataforma de produção de conteúdo Sixpix e CEO da Appies, plataforma de negócios para desenvolvedores, explica que 'Meetup', na verdade, é um site americano usado para marcar encontros e organizar eventos de variados temas. "O 'Meetup' ficou famoso alguns anos atrás. Por ser fácil de navegar nele e possuir uma apresentação amigável, tornou-se referência de encontros informais", afirma.

O nome pegou. Hoje, em todo o mundo se fala de 'meetups', mesmo que os encontros não sejam organizados por meio do site americano. Os temas são diversos: vinhos, mergulho, educação... Porém, no Brasil, por algum motivo, a expressão virou sinônimo de eventos de 'startups', que promovem o encontro de investidores ávidos por oportunidades com jovens empreendedores cheios de ideias de negócios.

Em meados deste mês, por exemplo, aconteceu na zona sul de São Paulo a II Virada Empreendedora, 'meetup' organizado pela MyJobSpace, empresa de 'coworking', com o patrocínio do Sebrae-SP. Foram 24 horas de palestras e atividades. Após a meia-noite, em um terraço, cerca de 50 pessoas se reuniram em torno de uma fogueira e, enquanto comiam yakissoba, pipoca e bolo, bebiam cerveja e conversavam sobre empreendedorismo.

Ao mesmo tempo, em uma das salas do local, era possível ouvir gente animada com um campeonato de jogos de negócios sustentáveis e ver pessoas refesteladas em pufes, entretidas com conversas informais de negócios. Na sala de palestras, Marcos Passos, 22 anos, fundador de uma 'startup' tida como promissora, a ' Bookess ', maior plataforma de autopublicação editorial do mercado brasileiro, respondia via Skype perguntas sobre sua experiência.

"Quando lancei a 'Bookess', tinha 17 anos. Fui viajar e tinha esquecido o livro que estava lendo em casa. Mas queria muito continuar a leitura. Foi assim que surgiu a ideia. Não estava pensando em um negócio", relatou Passos para uma pequena plateia, que ouvia atentamente. "Mas um dia, em um 'review' comparativo entre sites de publicação de livros digitais, a 'Bookess' apareceu entre as dez melhores do mundo e atraiu muitos investidores", acrescentou o jovem empresário.

Diego Remus foi um dos curadores do evento na madrugada e gostou do que viu. "As pessoas falaram de coisas que normalmente ou são muito banais ou muito extravagantes para entrar na programação oficial de eventos. Percebemos que não é preciso um formato convencional para que as pessoas falem de negócios", afirma.

O evento teve 350 inscritos e contou com a participação de ilustres do mundo do empreendedorismo, como Cássio Spina, criador da rede Anjos do Brasil, Gil Giardeli, CEO da Gaia Creative, empresa em que implementa inteligência de mídias sociais, e Marcelo Nakagawa, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper.

Bob Wollheim afirma que os 'meetups' cresceram muito nos últimos três anos como consequência do avanço do empreendedorismo de internet no Brasil. "O número de jovens interessados em fazer carreira nesse setor se expandiu de forma explosiva. E os 'meetups' acompanharam, até porque são eventos mais simples e fáceis de organizar", diz. No entanto, ele lembra que um 'meetup' sem conteúdo não se sustenta. "O evento não pode ter só festa e conteúdo de baixa qualidade. Muitos 'meetups' que surgiram recentemente já desapareceram", adverte.

No ano passado, a empresa de Wollheim, a Sixpix, foi responsável pela organização de quatro 'meetups' do Prêmio RBS de Empreendedorismo e Inovação (PREI), em Recife (PE), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e São Paulo. Neste ano, será um 'meetup' a mais, totalizando cinco, e a expectativa é receber mais de 500 participantes.

Mas o 'meetup' mais conhecido atualmente, segundo o próprio Wollheim, é o BRNewTech, promovido mensalmente em São Paulo pela Brazil Innovators, empresa que fomenta o empreendedorismo no país. Entre os motivos da fama, estão a frequência e a participação rotineira de empreendedores e investidores do Vale do Silício.

A fundadora, Bedy Yang, uma brasileira que mora no Vale do Silício, explica que os encontros educam o empreendedor por meio de palestras e dão a oportunidade aos jovens empresários de "treinar", uma vez que eles podem fazer apresentações do seu negócio - algo costumeiro para quem busca investidores e chamado, no mundo das 'startups', de 'pitch'. Além disso, ajuda no networking, porque os empreendedores também têm a oportunidade de conversar com gestores de fundos e investidores-anjos.

"Quando lancei o 'meetup', já estava morando no Vale do Silício, onde conheci muitos investidores e empreendedores que me convidavam para eventos frequentados por pessoas de vários países. Mas percebi que não havia brasileiros e não entendia o porquê. Então decidi criar uma ponte com o Vale do Silício e levar essa cultura empreendedora para o Brasil. Hoje há 2.220 pessoas na rede do BRNewTech", afirma Bedy.

Ela diz que o evento, frequentado também por investidores e empreendedores estrangeiros, já rendeu bons frutos. "Por exemplo, em uma edição do 'meetup', em fevereiro de 2011, a 'startup' brasileira Best, Cool & Fun Games - que desenvolve jogos para celular - teve a oportunidade de fazer um 'pitch'. Depois disso, recebeu um aporte da Arpex Capital, que posteriormente apresentou a 'startup' para o investidor russo Yuri Milner [uma figura quase lendária no setor de startups, por conta de um investimento feito no Facebook ]", relata Bedy. Fonte Jornal Valor.

Narciso Machado

NCM Business Intelligence


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