20150328

Facebook aposta nas favelas brasileiras

Favelas brasileiras: a aposta do Facebook para elevar a receita.
O Facebook quer aproveitar o empreendorismo nascente em comunidades como Heliópolis, na periferia de São Paulo, para elevar sua receita com publicidade.

A busca por receita publicitária está levando o Facebook Inc. FB +0.35% a uma nova fronteira: as favelas brasileiras.

Na semana passada, a rede social abriu um “laboratório de inovação” em Heliópolis, uma favela em expansão na periferia de São Paulo. O laboratório oferece aulas grátis de marketing digital, finanças e uso dos serviços do Facebook para os pequenos empresários da comunidade. Localizado dentro de uma sala de aula de uma escola pública local, o laboratório é pintado de azul e branco, as cores do Facebook.

O objetivo da empresa americana é lucrar com o empreendedorismo nascente em algumas das comunidades brasileiras mais pobres, graças principalmente à telefonia móvel.

Os brasileiros estão entre os principais compradores mundiais de smartphones, que hoje são comuns mesmo em áreas como Heliópolis. A grande maioria dos 200 mil moradores da comunidade já usam o Facebook em seus telefones, que proporciona uma visibilidade de baixo custo para que os cerca de 5 mil negócios locais, como salões de beleza e bares, cheguem a esses usuários via internet.

Pequenas empresas “virtualmente se apossaram do Facebook para seu uso [...] Imagine se mais pessoas ficam sabendo disso?”, diz Patrick Hruby, diretor da divisão de pequenas e médias empresas do Facebook na América Latina. “Este laboratório de inovação que estamos lançando em Heliópolis é uma forma de levar esse conhecimento” para outros.

O morador local Victor Hugo já é um convertido. O fotógrafo de 26 anos diz que costumava ganhar cerca de US$ 1.600 por mês anuciando seus serviços em jornais locais. Em 2012, ele criou uma página no Facebook para promover seu negócio. Ele também se comunica com clientes usando o aplicativo de mensagens WhatsApp, que foi comprado pelo Facebook.

Ele diz que essas mudanças elevaram sua renda mensal para US$ 4 mil.

“Nas redes sociais, todo mundo é igual. É mais democrático”, diz ele. “Ninguém julga você pelo carro que você dirige.”

As pequenas empresas brasileiras já provaram ter mais potencial para usar as ferramentas de mensagens do Facebook na realização de transações on-line do que negócios de outras partes do mundo, diz Hruby, o diretor do Facebook. Esses empreendedores estão se voltando para as redes sociais porque não têm acesso a outras tecnologias e infraestruturas, acrescenta ele.

Embora 90% dos moradores de Heliópolis usem o site, apenas cerca de 14% das pequenas empresas da favela possuem uma página no Facebook até agora, segundo a rede social. Hruby diz que espera aumentar essa fatia, levando esses microempresários a pagar por anúncios.

A redução do crescimento de usuários no já um tanto saturado mercado americano está incentivando o Facebook e outras empresas de tecnologia a olhar para outros lugares — principalmente países em desenvolvimento, onde a penetração da internet é menor, mas está crescendo rapidamente.

O Brasil é atualmente o quarto maior mercado de smartphones do mundo e um dos principais mercados de redes sociais. É, também, o maior mercado do Facebook fora dos Estados Unidos, segundo a firma de pesquisas comScore Inc. SCOR +3.02% Cerca de 87,4% dos internautas brasileiros visitaram sites de redes sociais em janeiro, tendo passado uma média de 628 minutos nesses sites, ou quase o dobro do tempo gasto pelos usuários americanos no mesmo período, informa a comScore.

Se o laboratório de Heliópolis tiver sucesso, Hruby diz que o Facebook pode expandir a ideia para outras favelas do Brasil e outros países. A Organização das Nações Unidas estima que 110,7 milhões de pessoas vivam em favelas na América Latina e Caribe.

O potencial do Brasil, por si só, é imenso. As favelas brasileiras abrigam mais de 11,4 milhões de pessoas, 44% delas concentradas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belém, segundo o censo de 2010. Muitas passaram décadas se transformando em microeconomias com milhares de restaurantes e bares, oficinas, negócios de entregas, transportes e outros serviços para os moradores. Especialistas dizem que as redes sociais proporcionaram ferramentas baratas de comunicação em áreas onde linhas de telefonia fixa são raras e pacotes de mensagens de texto muito caros. As redes acabaram por abrir caminho para que novos modelos de negócios on-line florescessem, diz Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio de Janeiro.

Dayse Vilela, que tem 25 anos e também mora em Heliópolis, usa o Facebook e o Instagram para vender fraldas de pano personalizadas com personagens populares de desenhos animados. Ela diz que só consegue acessar a internet através da conexão de dados 3G de seu smartphone. O serviço é irregular e ela tem que esperar pelo sinal de celular para responder as mensagens dos clientes.

Mesmo assim, redes crescentes de usuários estão criando meios sem precedentes para os empreendedores da comunidade realizarem negócios, diz Vilela e outros moradores. “Eu fazia fraldas para meu sobrinho e todo mundo ficava pedindo para eu fazer mais”, diz ela. “Quando entrei no Facebook, isso foi se espalhando cada vez mais e eu comecei a vender pelo meu perfil [...] Agora, as pessoas enviam seus pedidos por mensagens [no Facebook].” Fonte The Wall Street Journal.

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