20140523

Esqueça a nuvem, o futuro da computação está no nevoeiro

Computação em nuvem (do inglês, cloud computing). Eu acredito no poder de transformação da computação em nuvem como qualquer outra pessoa. Smartphones, que estão constantemente procurando e obtendo informações, não fazem sentido sem a nuvem, e qualquer empresa que não esteja se esforçando para colocar seus dados e software num sistema terceirizado corre, na minha opinião, o risco de ser ultrapassado por um concorrente que esteja fazendo isso.

Mas os defensores da nuvem gostam de declarar que, um dia, 100% da computação será realizada na nuvem. E o negócio de muitas empresas é vender a você essa ideia.

Mas a realidade é que colocar e retirar dados da nuvem é mais difícil que a maioria dos engenheiros, ou pelo menos seus gerentes, quer admitir.

O problema é a velocidade da comunicação de dados — que em computação é expressa por um parâmetro chamado largura de banda. Se uma determinada empresa está simplesmente tentando economizar o custo e o trabalho de armazenar dados por conta própria, a nuvem é ótima porque tudo o que ela precisa é transferir dados através de uma conexão de alta velocidade.

Mas num mundo de conectividade de massa — em que as pessoas precisam conseguir informação em um leque de dispositivos móveis — a comunicação é bastante lenta. Qualquer empresa que envia dados para dispositivos móveis, seja reservas aéreas para passageiros ou dados comerciais para a equipe de vendas, sofre com as limitações das redes sem fio. No geral, segundo o Fórum Econômico Mundial, os Estados Unidos ocupam o 35º lugar entre 148 países em largura de banda por usuário. (O Brasil ocupa a 61ª posição no relatório do órgão.)

Essa é uma razão pelas quais os aplicativos se tornaram o principal meio de se conectar à internet, pelo menos nos smartphones. Parte das informações e do poder de processamento fica a cargo do dispositivo.

O problema de como fazer as coisas quando se depende da nuvem está se tornando mais grave à medida que cada vez mais objetos estão se tornando "inteligentes", ou capazes de fazer medições do ambiente, conectar-se com a internet e até receber comandos remotamente. Tudo, de aviões a geladeiras, está sendo conectado à redes sem fio e se unindo à "Internet das Coisas".

As modernas redes de celulares 3G e 4G simplesmente não são velozes o suficiente para transmitir dados dos dispositivos para a nuvem no ritmo em que eles são gerados, e como cada simples objeto do lar e do trabalho está entrando no jogo, a situação só tende a piorar.

Felizmente, existe uma solução óbvia: parar de se concentrar na nuvem e começar a pensar numa forma de armazenar e processar a torrente de dados gerados pela Internet das Coisas (também conhecida como internet industrial) nas próprias coisas ou em dispositivos que fiquem entre nossas coisas e a internet.

O pessoal de marketing da Cisco Systems Inc. já inventou um nome para este fenômeno: "fog computing", ou computação em nevoeiro.

Eu gosto do termo. Sim, ele faz você querer franzir a testa. Mas, como no caso de computação em nuvem — também um termo cunhado pelo marketing quando já era um fenômeno em evolução —, ele é uma boa metáfora visual do que está acontecendo.

Enquanto a nuvem está em algum lugar distante e remoto do céu, deliberadamente abstrato, o nevoeiro está perto do chão, bem onde as coisas estão sendo feitas. Ele não consiste de servidores poderosos, mas de computadores mais fracos e mais dispersos, do tipo que está sendo vendido para aparelhos, fábricas, carros, postes de iluminação e qualquer outra parte de nossa cultura material.

A Cisco vende roteadores, que depois da armazenagem é o menos atraente dos setores tecnológicos. Para torná-lo mais excitante, e para vendê-lo para novos mercados antes que os competidores chineses prejudiquem o seu faturamento, a Cisco quer transformar seus roteadores em sistemas que acumulam dados e tomam decisões sobre o que fazer com eles. Na visão da Cisco, seus roteadores inteligentes nunca irão precisar se ligar com a nuvem, ao menos que tenham que, digamos, alertar operadores para uma emergência em um vagão ferroviário equipado com sensores e onde um destes roteadores atuaria como um centro nervoso.

A International Business Machines Corp. IBM está trabalhando numa iniciativa semelhante para levar os sistemas de computação "até a extremidade", um esforço que, segundo o executivo da IBM Paul Brody, vai virar a internet tradicional, baseada na nuvem, "de cabeça para baixo". (Quando as pessoas falam de "edge computing" — algo como computação na extremidade — o que elas querem indicar literalmente é a extremidade da rede, a fronteira onde a internet termina e o mundo real começa. Os centros de dados estão no "centro" da rede, enquanto os computadores pessoais, telefones e câmeras de vigilância estão na fronteira.)

Da mesma forma que, fisicamente, a nuvem consiste de servidores conectados, no projeto de pesquisa da IBM, o nevoeiro é formado por todos os computadores que estão ao nosso redor, ligados entre si. Num certo nível, pedir para nossos dispositivos inteligentes, por exemplo, enviar informações um para o outro, em vez de através da nuvem, pode transformar o nevoeiro num concorrente direto da nuvem em algumas funções.

A conclusão é que temos dados demais. E estamos só no começo. Os aviões são um bom exemplo. Num novo Boeing , quase todas as partes do jato são conectadas à internet, gravando e, em alguns casos, enviando um fluxo contínuo de dados sobre suas condições. A General Electric informou que, em apenas um voo, um de seus motores de avião gerou meio terabyte de dados.

Sensores baratos geram uma grande quantidade de dados e são surpreendentemente úteis. Os sensores chamados de analíticos preditivos permitem a companhias como a GE saber qual parte de um avião precisa de manutenção, antes até do avião em questão aterrissar.

Por que você acha que o Google e o Facebook estão falando sobre meios alternativos de acesso à internet, incluindo via balões e drones? Os canais existentes não estão dando conta do recado. Até que as pessoas tenham internet com e sem fio com a velocidade que merecem, conectar as coisas o mais próximo possível do usuário será fundamental para tornar a Internet das Coisas veloz o suficiente para ser utilizável.

O futuro de grande parte da computação das empresas continua sendo a nuvem, mas e a computação realmente transformadora do futuro? Ela vai acontecer bem aqui, nos objetos que nos cercam — no nevoeiro. Fonte The Wall Street Journal.

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