20130716

Desaceleração na China cria novo grupo de vencedores

Centro comercial K11 Art Mall em Xanga. Com o acúmulo de estatísticas mostrando que o crescimento da China está arrefecendo, indústrias do mundo todo estão vendo um novo cenário de vencedores e perdedores. Os que mais se beneficiaram com a ascensão da China agora estão sendo prejudicados. Outros, visando o mercado de 1,3 bilhão de consumidores chineses, estão se saindo melhor. O crescimento da China, a segunda maior economia do mundo depois dos Estados Unidos, vem diminuindo desde 2007, mas recentemente a queda tem se acelerado. A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto, divulgada ontem, foi de 7,5% no segundo trimestre ante o mesmo período de 2012, abaixo dos 7,7% do primeiro trimestre. O resultado está em linha com a meta do governo chinês de crescer 7,5% no ano, taxa que tornaria o desempenho de 2013 o mais fraco desde 1990. Alguns economistas acreditam que o país crescerá ainda menos. Maruli Sitorus, dono de uma plantação de palma em Sumatra, na Indonésia, diz que sua renda caiu 50% ao longo de 2012 devido ao recuo nos preços do óleo de palma, usado em óleos de cozinha e combustíveis. "Sem dúvida, a baixa demanda da China está nos afetando", disse. A China está tentando promover um reequilíbrio complicado. Ela quer que sua economia seja menos dependente da construção civil e da indústria pesada e mais dependente dos gastos do consumidor. Isso está gerando otimismo em setores como o automobilístico e da indústria alimentícia. Para ampliar o consumo interno, o governo elevou o salário mínimo para colocar mais dinheiro no bolso das pessoas e relaxou os controles sobre as taxas de juros para dar rendimentos maiores aos pequenos poupadores. Também foram alterados os incentivos fiscais e os tributos sobre a propriedade para beneficiar a indústria de bens de consumo, tirando-os de indústrias pesadas que apresentam excesso de capacidade, como a siderúrgica e a construção naval. O governo chinês também informou ontem que sua produção industrial cresceu 8,9% em junho comparado com um ano atrás, resultado inferior à previsão de 9,1% e ao crescimento de 9,2% registrado em maio. Os investimentos em ativos fixos também desapontaram ligeiramente, com um crescimento de 20,1% no primeiro semestre contra uma previsão de 20,2%. Os gastos dos consumidores tiveram bom desempenho, com as vendas no varejo subindo 13,3% em junho, ante um crescimento de 12,9% em maio. Mas o avanço da renda disponível das famílias urbanas baixou para 6,5% no primeiro semestre em relação a um ano antes, contra 9,7% no primeiro semestre de 2012. O SK Group, 003600.SE -2.05% da Coreia do Sul, assinou este mês um acordo de US$ 160 milhões para criar uma joint venture para fabricar baterias para carros elétricos em Pequim. "A maioria dos nossos projetos na China são para os consumidores chineses, não para reexportar para outros países", disse o porta-voz Jung-min Yoo. O crescimento econômico chinês continua forte em comparação com boa parte do mundo. Mas as recentes taxas de um dígito são uma queda notável a partir do recorde de 14,2% em 2007. A desaceleração está particularmente difícil para os produtores de commodities, os maiores beneficiários do boom econômico chinês. Um estudo da Standard & Poor's com mais de 90 das maiores companhias chinesas concluiu que elas vão cortar os gastos totais de capital este ano pela primeira vez em pelo menos dez anos. Os investimentos em fábricas, linhas de montagem, fundições e telecomunicações tendem a criar uma grande demanda pelas matérias-primas que a China importa. Países latino-americanos como Brasil e Chile têm visto as receitas com suas maiores exportações de commodities para a China caírem, especialmente de minério de ferro e cobre. "A China é o principal parceiro comercial do Brasil, então a desaceleração na China afeta o Brasil", disse Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. Ele destaca, porém, que enquanto os preços têm caído, os volumes das matérias-primas enviadas para a China têm crescido. "Existe um estranho efeito no momento. Não estamos verificando uma redução nas exportações em volume, mas em termos de preços. Ainda não está claro o que está por trás disso." A desaceleração da China atingiu pessoas como Anthony Walsh, diretor-gerente da Ausco Modular, firma australiana que constrói moradias temporárias para trabalhadores de minas em lugares como Karratha, cidade mineira no litoral noroeste da Austrália. "Se você tivesse um quarto em Karratha 12 meses atrás, podia ocupá-lo num segundo", disse ele. Hoje, um quinto dos quartos antes ocupados por mineiros trazidos do leste da Austrália estão vazios. Os alugueis caíram 20%. Enquanto a desaceleração do crescimento chinês prejudica alguns países, também resulta em preços menores de combustíveis e matérias-primas para o resto do mundo. Isso, por sua vez, moderou a inflação, o que ajudou os bancos centrais a estimular as economias em dificuldades. Por outro lado, os fabricantes de bens de consumo e de equipamentos sofisticados para empresas estão mais focados nos consumidores chineses, cada vez mais prósperos. O Dienes Group, da Alemanha, produz facas industriais usadas em máquinas como cortadores de papel. As vendas para a China triplicaram ante dez anos atrás, para cerca de 3 milhões de euros, ou cerca de US$ 3,9 milhões. A China agora representa até 8% das receitas do grupo, de 40 milhões de euros. "A menos que [a China] desmorone completamente, seu PIB per capita vai aumentar, o que vai criar mais demanda", disse o sócio-gerente Bernd Supe-Dienes.
A China deve contribuir com 13% da atividade econômica global este ano, em comparação com 5% em 2006. Mesmo com um crescimento mais lento, o efeito da China no mundo todo é significativo. Uma queda mais acentuada na taxa de crescimento chinesa iria reverberar no mundo todo. Um dos riscos é que as firmas chinesas, que relutam em despedir seus funcionários, sejam forçadas a cortar pessoal, reduzindo os gastos domésticos e prejudicando o objetivo de levar o país em direção a uma economia voltada para o consumo interno. A demanda dos consumidores vem se mantendo forte. No entanto, os observadores advertem que a mudança na economia chinesa está em estágio inicial e que o aumento dos investimentos continua sendo o principal motor da economia. Um progresso significativo em direção a um novo equilíbrio, focado no consumo interno, pode levar anos. Por ALEX FRANGOS e ERIC BELLMAN, de Hong Kong e Jacarta (Colaboraram Tom Orlik, Patrick McGroarty, Rhiannon Hoyle, George Nishiyama, In-Soo Nam, Brenda Cronin, Brian Blackstone e Rogerio Jelmayer.) Fonte The Wall Street Journal. NCM Business Intelligence - Narciso Machado

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