20111112

A síndrome da urgência e da ausência de significado


Recebemos dias atrás no Brasil um dos maiores pensadores da área de management do mundo, Henry Mintzberg, professor da McGill e professor visitante do Insead.

Crítico contumaz da abordagem tradicional das escolas de negócio, Mintzberg se destaca por uma visão crítica das teorias de gestão "empacotadas", que desconsideram a energia gerada nas interações sociais.

Uma das questões que ele discute é a síndrome da superficialidade. Nossas pesquisas confirmam a existência dela também no Brasil. O executivo está cada vez mais pressionado por uma agenda insana, pela tecnologia e pelo compromisso com resultados de curto prazo - frequentemente impossíveis de atingir sem comprometer o longo prazo.

Não se valoriza a capacidade analítica. Dedicar-se a pensar sobre um assunto é falta de agilidade, é "moleza". Sabemos que a questão de timing é fundamental. O mundo não espera, os concorrentes avançam, os clientes são cada vez mais exigentes e as relações sociais se reconfiguram continuamente. Não faltaria, porém, uma reflexão sobre o que, de fato, é urgente e fundamental?

As organizações brasileiras vivem hoje a síndrome da urgência e da ausência de significado. Não é difícil perceber que essa síndrome e a da superficialidade andam de mãos dadas. Executivos que pesquisamos das 500 melhores e maiores empresas brasileiras dizem que 41% do que fazem é "dispensável" e "não agrega valor" à empresa nem a eles. Esse índice cresceu em relação ao de anos atrás. Perde-se tempo nos jogos maliciosos de poder, na burocracia, nas replicações de trabalho em função dos silos, na atenção à forma em detrimento do conteúdo e nos trabalhos de qualidade insuficiente, muitas vezes pela impossibilidade de dizer não ao chefe.

Há casos estarrecedores de executivos sérios que, sob efeito da pressão do mercado de capitais, da urgência dos resultados trimestrais e das síndromes já descritas, tomam decisões que comprometem a construção do futuro da empresa. Não porque desconhecem o caminho correto, e sim por se verem sem alternativa diante da pressão.

Por que estamos perdendo a possibilidade de, efetivamente, ter o rumo das decisões em nossas mãos? Por que não mais distinguimos o urgente do importante? Por que deixamos que os e-mails e os celulares estabeleçam as nossas prioridades? Por que nos apegamos tanto à estética do PowerPoint e esquecemos de refletir ou discutir o conteúdo do que criamos? Por que, diante do tema sucesso e (in)felicidade, muitos dos executivos que entrevistamos disseram "nem posso parar para pensar sobre isso" e se mostraram desolados com essa constatação?

Pensemos no significado do que fazemos, do que somos. Pensar é uma atividade cada vez mais rara nesse frenético mundo. Mas cada um de nós tem o dever, em primeiro lugar consigo mesmo, de buscar identificar as suas razões e motivações. Na organização, cabe ao dirigente ser o grande articulador do significado empresarial, da "causa", para mobilizar as almas e os corações das pessoas.

Ele, o seu time de executivos e a área de recursos humanos - ou, como provoca Mintzberg, a área dos "seres humanos" - devem colocar essas questões em pauta. Não há apenas uma resposta correta, mas as organizações e os dirigentes que conseguirem sair dessas armadilhas, enxergar e trilhar outros caminhos certamente construirão as bases para um futuro melhor e para resultados empresariais, e individuais, realmente sustentáveis.
Betania Tanure é doutora, professora da PUC Minas e consultora da BTA. Fonte: Jornal Valor.

Nenhum comentário: