20110822

A maior diferença entre as gerações não é a idade

Estou prevendo distúrbios em San Antonio. Eles não serão provocados por jovens quebrando janelas de lojas como aconteceu no Reino Unido recentemente. Neles, estarão especialistas em administração de meia-idade num ataque enfurecido a um de seus dogmas.
Dois acadêmicos vão se levantar na conferência anual da American Academy of Management, da qual participam milhares das pessoas mais politicamente corretas do mundo, e dizer a elas que a diversidade de idade é ruim para as empresas e para os trabalhadores.

Os pesquisadores* consultaram 8 mil profissionais de 60 companhias e constataram que as organizações que empregam tanto pessoas jovens quanto idosas são lugares inapropriados para se trabalhar, com alta rotatividade de pessoal e baixa produtividade, além de estarem cheias de ressentimentos, medo e desgosto.

Embora seja deliciosamente estimulante ouvir alguém dizer qualquer coisa contra a diversidade, os resultados me parecem bizarros. Posso imaginar que a diversidade de gênero sexual poderia ter um impacto tão negativo. Na verdade, trabalhar com homens algumas vezes já foi motivo de ressentimento, medo e desgosto para mim. A história nos diz que a diversidade étnica também pode provocar conflitos. Mas não vejo como isso possa acontecer com a diversidade etária.

Os pesquisadores sugerem dois motivos para suas constatações: as pessoas se dão melhor com trabalhadores da mesma idade, e grupos com faixas etárias variáveis provocam "violações nas normas dos cronogramas de carreira". Em outras palavras, as pessoas mais velhas ficam frustradas quando colegas mais jovens são promovidos por sobre suas cabeças, enquanto os mais jovens ficam ressentidos quando um colega mais velho fica tempo demais no cargo, impedindo sua ascensão.

Isso parece razoável, mas não está de acordo com a experiência que tenho. Quando meu "cronograma de carreira" é violado por alguém 10 ou 20 anos mais novo, fico muito menos furiosa e ressentida do que quando ele é violado por alguém da minha idade - caso em que levo a situação para o lado pessoal. E quanto aos vínculos, embora seja verdade que é mais fácil você se ligar a contemporâneos, há um limite ao grau de intimidade que eu quero ter. Contanto que eu tenha uns dois amigos no trabalho, fico perfeitamente satisfeita em ser apenas cortês com os demais.

A ideia de trabalhar exclusivamente com pessoas da minha idade me é abominável, Seria como voltar à escola. Uma das melhores coisas em relação ao trabalho é que ele é o único lugar onde você tem contato com pessoas que não são da sua idade e não fazem parte de sua família. Quando entrei no mercado de trabalho, aos 22 anos, fiquei entusiasmada por poder conversar com pessoas de até 30 anos como se elas fossem iguais a mim. Também me lembro de pensar que umas poucas pessoas na casa dos 50 eram deuses, cujos pés eu ficaria feliz em beijar.

Na medida em que envelhecemos, esses pés diminuem em quantidade até percebermos que a situação se inverteu. Em uma extraordinária brincadeira do tempo, você se transforma em um deus - embora no meu caso esteja havendo uma lamentável falta de jovens dispostos a beijar meus pés. No entanto, ainda acho um grande prazer ter colegas muito jovens ocupando cargos comuns na redação. Podemos não ser amigos, mas acredito que poderíamos nos achar interessantes numa convivência mais afastada do trabalho.

Todavia, o estudo contém uma qualificação que faz todo o sentido. Ele diz que a convivência entre velhos e jovens não pode ser motivo para alguém se sentir desconfortável - ela só faz isso em um ambiente de trabalho em que as pessoas são encorajadas a demonstrar suas emoções. Em companhias onde as emoções são suprimidas, pessoas de gerações diferentes parecem se dar muito bem. E isso certamente é a resposta para tudo: o problema não é a idade, é a emoção.

A maior diferença entre os jovens e os velhos no local de trabalho é que os jovens foram criados com uma dieta uniforme de psicologismo administrativo barato que diz que é demais deixar o cabelo crescer no trabalho. Eles foram ensinados que as emoções devem ser demonstradas e nisso reside a autorrealização e a criatividade.
Nós, os mais velhos, aprendemos de outro modo. A criatividade vem com o trabalho duro e dane-se a autorrealização. Sabemos que trabalhar é ser profissional e isso significa manter o cabelo preso o tempo todo.
Essa pesquisa oferece uma prova vibrante de que nós, os mais velhos, estávamos certos.

Ou seja, a supressão emocional é boa para companhias e para os funcionários. Portanto, antes de enlouquecer em San Antonio, o público fiel da administração deveria prender e aparar os cabelos e considerar uma verdade administrativa que infelizmente é negligenciada: quando deixamos nossas emoções em casa, podemos trabalhar muito felizes juntos. Podemos ter diversidade ou podemos ter a incontinência emocional, mas não podemos ter ambas.
* "When and why age diversity matters for o organizations" (Quando e por que a diversidade etária é importante para as organizações"), de Florian Kunze e Jochen Menges. Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times".

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