20150117

Nova profissão "cuddler" ou "aconchegadora profissional"

Kimberly Kilbride é o que em inglês se chama “cuddler”, ou “aconchegadora” profissional.

Precisa de carinho? Contrate um ‘aconchegador’ profissional.
Por US$ 80 por hora, ou até US$ 400 por uma sessão durante toda a noite, essa mãe de três filhos e 33 anos de idade veste pijamas de flanela, esconde as fotos de família e os dois cachorros pit bull e convida os clientes a entrar em seu quarto, em Highland, no Estado americano de Nova York, para dormirem de conchinha. Ela diz que, depois que o aconchego começa, ele continua estritamente platônico.

O negócio de “cuddle” por demanda está deslanchando nos Estados Unidos. Milhares de clientes por todo o país estão marcando consultas com aconchegadores profissionais em pelo menos 16 estados. Tanto clientes quanto aconchegadores, é preciso deixar claro, permanecem vestidos o tempo todo. O aconchegador aperta, faz cócegas e abraça os clientes por uma tarifa fixa. Quem contratou os serviços por mera curiosidade diz que foram cativados pelos seus benefícios terapêuticos.

“Eu me converti”, diz Melissa Duclos-Yourdon, de 35 anos, uma escritora e editora freelance de Vancouver, no Estado de Washington. Ela contratou um aconchegador depois de ouvir frequentadores do seu clube de leitura comentarem a respeito. A princípio, a esperança dela era que a experiência fornecesse material para um ensaio. Uma vez aconchegada, “eu me senti transformada”, diz ela.

Embora aconchegadores existam há muito tempo, o interesse está aumentando graças a novos aplicativos on-line e serviços de encontros. Uma convenção de aconchegadores está sendo planejada.

Um aplicativo grátis, o Cuddlr, foi lançado em setembro e já foi baixado cerca de 240 mil de vezes, segundo Charlie Williams, fundador e desenvolvedor do app., que permite que usuários encontrem pessoas nas redondezas para se aconchegar com elas. Entre 7 mil e 10 mil pessoas usam o serviço diariamente, diz ele. O slogan da empresa é: “Você já quis só um abraço?”

O site Cuddle Comfort (algo como Conforto no Aconchego, em tradução livre) fornece um serviço onde os membros podem postar fotos, perfis e encontrar outros interessados em aconchegos não sexuais. O site grátis tem agora cerca de 18 mil membros, diz o fundador, Mark Sanger. Entre as discussões recentes no site está essa: “Quais são os melhores gêneros de filme para se aconchegar?”

Nem todo mundo se sente aquecido e inebriado por um abraço de aluguel. Quando Jacqueline Samuel, de 31 anos, abriu sua empresa na pousada de sua família em Rochester, no Estado de Nova York, os vizinhos se preocuparam com a possibilidade de o negócio atrair clientes mal intencionados. Cerca de dois anos atrás, ela mudou o negócio para uma área comercial de Rochester. A empresa, chamada The Snuggery (algo como Retiro Aconchegante, em tradução livre), agora cobra US$ 50 por uma sessão de 45 minutos ou US$ 425 por uma noite toda.

A Snuggle House (Casa do Aconchego, em tradução livre), empresa de Madison, no Estado de Wisconsin, fechou as portas em 2013 diante do receio de vizinhos de que ela poderia se tornar uma fachada para algo mais abertamente amoroso que abraços, diz Joel DeSpain, porta-voz do Departamento de Polícia de Madison. Ele diz que as autoridades checaram as operações da empresa, mas nunca emitiram nenhuma intimação.

As autoridades policiais contatadas em meia dúzia de cidades onde existem empresas de aconchegos disseram que não receberam reclamações e que as empresas parecem estar operando dentro da lei.

Ao contrário de massoterapeutas, que normalmente realizam treinamento específico e precisam de licenças, os aconchegadores não são licenciados. A fiscalização é feita de acordo com leis e regulamentos locais. Os operadores, em alguns casos, podem ter que seguir exigências locais, como zoneamento e restrições do uso do imóvel, ou ainda a obtenção de uma licença para empresas domésticas.

A natureza nebulosa do negócio de aconchego por demanda — parte massoterapia, parte psicologia clínica — pode levar clientes a se decepcionarem ou fazerem pedidos não convencionais, dizem profissionais do abraço. Uma aconchegadora profissional negou a solicitação de um cliente para que usasse uma roupa colada à pele. Outro cliente queria dormir de conchinha trajando o seu terno.

“Tive uma cliente que queria que eu passasse a sessão inteira fazendo cócegas”, diz Travis Sigley, 27 anos, aconchegador profissional de San Francisco.

O negócio de “cuddling” por demanda se originou há pelo menos cinco anos nos EUA, segundo empresários do setor, que dizem que Sigley foi um pioneiro. O ex-estudante de psicologia, que tem cabelos longos e já trabalhou como stripper, diz que abriu sua empresa, a Cuddle Therapy (Terapia do Aconchego), porque se sentiu frustrado pelas restrições a terapeutas e clientes se tocarem. Desde então, dezenas de aconchegadores profissionais já abriram sua empresa ou foram contratados para trabalhar por empresários que atuam na internet. Algumas empresas exigem que os clientes assinem um contrato que estipula que tipos de carícias são permitidos. Alguns possuem até um diagrama corporal com áreas proibidas assinaladas em vermelho.

“Posso afirmar que alguns ficam desapontados porque tudo que eles conseguem é, no máximo, um abraço, mas é assim que funciona”, diz Becky Rodrigues, de 34 anos. Ela trabalha para a The Snuggle Buddies LLC (Os Amigos do Aconchego), um serviço on-line que opera em 15 estados americanos. Ela aconchega os clientes numa cama atrás de uma tela privativa no porão de sua casa, em Phoenixville, no Estado da Pensilvânia. Os contratos também exigem que os clientes tomem banho e escove os dentes antes das sessões.

Pesquisas mostram que existem benefícios físicos e emocionais tangíveis provocados pelo toque. Ele pode elevar os níveis de ocitocina, um hormônio de ligação produzido pelo hipotálamo que promove sentimentos agradáveis. O toque pode reduzir o batimento cardíaco e aliviar o estresse, segundo pesquisas acadêmicas.

Muitos aconchegadores profissionais praticam seus serviços seguindo um livro chamado “The Cuddle Sutra” (O Sutra do Aconchego), que oferece descrições detalhadas de vários tipos de abraço, como o “Vem com o papai” ou “Sardinhas”. Fonte The Wall Street Journal.

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