20120729

Executivos nômades seguem as Olimpíadas

Jeremy Edwards teve seu momento olímpico por acaso. Este australiano de 49 anos é o administrador do Greenwich Park de Londres, que vai sediar as competições de pentatlo moderno e equestres dos Jogos Olímpicos deste verão europeu. Ele comanda uma equipe de cerca de 80 administradores que estarão encarregados de áreas que vão da limpeza e tratamento de resíduos a questões médicas e veterinárias.

Edwards vem trabalhando em todos os jogos desde a Olimpíada de Sydney, em 2000, e tudo começou com duas garrafas de vinho em um jantar na casa de um amigo. Um dos outros convidados naquela noite era um empreiteiro que estava trabalhando para o comitê organizador dos jogos em Sydney e sugeriu a Edwards que se candidatasse a um trabalho. "Tinha um emprego onde ficava das 9h às 17h e do qual já estava ficando cansado. Isso é bom para algumas pessoas, mas não para mim", diz.

Após uma entrevista, ele conseguiu um cargo de gerenciamento de logística e compras do centro equestre da Olimpíada de 2000, e diz que depois disso não olhou mais para trás. "Apaixonei-me pelo conceito, pela ideia de organizar uma festa para o mundo", afirma. Edwards descreve Londres como o "auge" de sua carreira. "Gosto da pressão e do tamanho do desafio", explica.

Esse executivo faz parte de uma raça de trabalhadores nômades que desenvolvem suas carreiras pulando de um grande evento esportivo para outro. Há quase 700 funcionários do comitê organizador da Olimpíada de Londres (Locog, na sigla em inglês) que já trabalharam em jogos anteriores, Copa do Mundo ou outros.

Eles prosperam com a intensidade e natureza única desses trabalhos, que têm data certa para começar e terminar e que exigem malabarismos com uma série de parceiros pouco convencionais- além da pressão pública para realizar algo que o mundo inteiro vai assistir e julgar.

Kristin Carpenter, uma canadense de 29 anos que ocupou uma função administrativa na Olimpíada de Inverno de Vancouver, há dois anos, hoje supervisiona as operações da Horse Guards Parade, lar das disputas de vôlei de praia. Ela atua no controle das vendas de ingressos, garante que a numeração das cadeiras será respeitada e coordena as agendas de treinamento dos atletas no local.

Ela foi procurada pelo comitê organizador da Olimpíada de Inverno de Vancouver em uma feira de empregos realizada na Universidade da Colúmbia Britânica. "Depois daquela conversa, mudei meu curso para administração esportiva e de lazer", diz. Após o término dos jogos, Kristin fez suas malas e saiu em busca de uma colocação na organização da Olimpíada de Londres. "Percebi que esse era o trabalho certo para mim. Decidi ir a Londres e esperar até que eles me contratassem", conta.

Para Paul Deighton, um ex-sócio do Goldman Sachs que saiu do banco para se tornar o principal executivo do comitê organizador da Olimpíada de Londres, o que motivou essa mudança foi a oportunidade de liderar "o maior acontecimento em minha cidade desde que estou vivo".

Mas, após 20 anos no setor privado, a função exigiu ajustes. Primeiro, Londres venceu a disputa para sediar os jogos quando a economia estava aquecida, e a crise financeira significou que ele teve de organizar o evento em tempos de grande austeridade. Isso colocou mais pressão sobre os gastos públicos e afetou boa parte das decisões. "Tudo está sendo muito mais difícil, pois o governo precisa resolver uma complicada agenda de políticas públicas que não se presta simplesmente a melhorar o resultado para o comitê", diz.

Deighton acrescenta que o intenso escrutínio público tem sido outro desafio. "A pressão para que tudo funcione perfeitamente é enorme. É um projeto incrivelmente complexo", diz. "Todo mundo está observando você trabalhar e muitas vezes as coisas não se encaixam nem funcionam naturalmente". Ao mesmo tempo, ele ficou "chocado" pelo ritmo lento da tomada de decisões. Enquanto em um banco tudo envolvia ideias sobre como ganhar mais dinheiro, em um projeto do setor público trata-se de gerenciar expectativas, com as preocupações políticas exercendo uma força maior.

Para Edwards, veterano de Olimpíadas, Londres 2012 trouxe dificuldades inesperadas. A mais notável foi ter de enfrentar as autoridades e os moradores locais, preocupados com danos ao parque com sua transformação em um local de eventos olímpicos. "Os outros espaços em que trabalhei foram basicamente pedaços de terra sem uso", explica. Por outro lado, em Londres "tivemos alguns grupos bastante barulhentos, que claramente não nos queriam aqui".

Ele diz, no entanto, que isso o ajudou a desenvolver habilidades valiosas como atender diferentes públicos e administrar demandas distintas. "Tem sido difícil, mas também uma grande experiência educacional para mim. Não me lembro de coisa parecida em Sydney", afirma.

Luca Baracchi, um italiano de 33 anos cuja primeira experiência com uma Olimpíada foi o trabalho voluntário nos jogos de Atenas, em 2004, é um gerente de protocolo em locais de eventos para Londres 2012. Seu trabalho é garantir que as cerimônias do Comitê Olímpico Internacional para a entrega de medalhas aconteçam com tranquilidade e que as pessoas certas estarão nos lugares certos e na hora certa.

Baracchi admite que "não se trata de um emprego comum", mas assim como Edwards, isso foi o que mais o atraiu. Depois de Atenas, ele deixou um emprego burocrático e estável na Itália e foi participar da organização dos Jogos de Inverno de Turim, em 2006. Ele diz que a experiência de lidar com diferentes culturas o ajudou a conseguir um emprego agora em Londres.

Para Baracchi, o lado ruim de ser um nômade olímpico é o fato de ter de passar por uma nova série de entrevistas de emprego toda vez que ele se candidata a trabalhar na organização de novos jogos. Talvez o maior desafio para muitos desses trabalhadores seja descobrir o que fazer em seguida.

Deighton, porém, diz que a natureza exigente da função que está exercendo na Olimpíada de Londres não lhe dá nem mesmo a oportunidade de pensar em qual será seu próximo emprego. Os nômades têm uma ideia mais clara do que acontece em seguida. "Tenho certeza de que participarei de pelo menos mais uma Olimpíada", afirma Carpenter. "Não existe um ponto mais alto nessa carreira", ressalta.

Edwards, por sua vez, já pensa em desistir da organização central. "Não faria isso de novo se fosse convidado, mas gostaria de trabalhar em um comitê organizador como consultor. Seria uma boa oportunidade para aprender algo novo", revela. Enquanto isso, a tarefa de Baracchi após o fim dos Jogos Paraolímpicos, em setembro, será mais pessoal. "A primeira coisa que vou organizar quando tudo isso passar será a minha própria lua-de-mel." Fonte Jornal Valor e Financial Times -  (Tradução de Mario Zamarian)

Narciso Machado

NCM Business Intelligence







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